fevereiro 07, 2013

Na Estrada (de Novo)

- Eu não sabia que ela significava tanto pra mim.
- Tudo bem, eu entendo. Eu sei como é. – Ela me respondeu cabisbaixa, deitada no meu colo, fungando lágrimas recém-choradas. Ela aproximou o rosto do meu, nossas lágrimas se misturaram. Elas tinham o gosto amargo de uma vida não-vivida.

Nós nos conhecemos há pouco mais de um mês. Ou seria há pouco menos? Não sei, só sei que desde o primeiro momento parecia que tínhamos esperado a vida toda um pelo outro. Não estou falando sobre paixonite adolescente de fim de semana. Ambos já tínhamos passado dos 30 e a paixão já não visitava com frequência. Tínhamos algo verdadeiramente especial. Algo que é, digo com certeza, raro. Muito raro.

Estávamos sempre grudados um no outro (muita vezes literalmente). Quando não estávamos juntos, estávamos pensando em estar juntos e falando pelo Facebook. Foi um troço meio louco, no primeiro dia eu já estava preocupado se eu ia me entrosar com os amigos loucos dela. Porque ela era artista, pintora, e andava com toda sorte de pessoas esquisitíssimas. Ela era social, eu era... menos. No décimo quinto dia porém, eu já não me importava mais, eu tinha certeza que iria fazer qualquer coisa pra ficar com ela. Até ser o melhor amigo dos amigos loucos dela.

Porém, uma história de amor não precisa ser escrita por Shakespeare para acabar mal.

Acontece que ela, assim como outras mulheres que marcaram minha vida, não resistiram a minha paixão mais antiga. Aquela que acabou com todos meus relacionamentos, inclusive com meu casamento, voltara para me atormentar. Eu tinha que voltar para os braços da outra. Mesmo que eu soubesse que nunca encontraria ninguém como a mulher que eu tinha nos meus braços neste momento. Mas a outra paixão, desde os tempos de adolescente, não me deixaria ser feliz com esta mulher.

- Tudo bem, eu sei como é, eu entendo que você tem que ir. - Ela repetiu, com uma voz de quem sabe que perdeu. Com o coração apertado, limpei um pouquinho do ranho do nariz choroso dela, beijei as sobrancelhas grossas dela e coloquei sua cabeça no travesseiro para que eu pudesse levantar. Ela soluçou alto. Meus olhos arderam e meu rosto voltou a ficar molhado. Triste, porém necessário. Eu estava deixando mais uma mulher maravilhosa, talvez a mais maravilhosa, pela paixão mais antiga, conturbada e egoísta. Eu estava partindo mais um coração, incluindo o meu, por minha velha puta companheira:

a estrada.