dezembro 26, 2010

Metrópoles Pub & Restaurante

Andavam rápido, por conta do frio que os fazia enfiar as mãos dentro do bolso e as meninas se aconchegarem perto do peito dos rapazes.

- Grant Morrison é completamente pirado. Que porra é essa de Barbelith? Sem contar aquele universo fragmentado da DC, como é mesmo?
- Final Crisis?
- É, isso aí. Muitas drogas. O cara toma ácido e senta na frente dum computador e a galera publica isso.

Uma terceira voz, pertencente a Luíza, se meteu: - Que tal mudar de assunto e ser um pouco menos nerd?

Os dois rapazes, contrariados, se entreolharam. De toda forma já estavam chegando ao bar a que se dirigiam. Não era nenhuma ocasião especial, apenas uma velha e boa quinta-feira à noite com os amigos, uma boa cerveja e, se a Srta. Sorte lhes sorrisse, uma noite quente na companhia de uma emoção fria.

Um dos rapazes abriu a porta para que os outros integrantes do grupo entrassem. O bar chamava-se Metrópoles e, dizia a lenda, era também um restaurante, mas o grupo de amigos nunca havia visto ninguém comer nada por lá, exceto por aperitivos e salgadinhos. Não era um bar particularmente charmoso, o Metrópoles. As paredes tinham uma cor estranha e a decoração estava mais para loja turca na Azenha, mas a cerveja era boa e barata, a barwoman (o feminino de “barman”, certo?) era educada, o lugar nunca estava muito cheio e, o melhor de tudo, era perto de onde moravam todos nesse grupo de amigos.

Havia alguns tradicionais alcoólatras que estavam sempre por lá, mas nunca causavam incomodo, no máximo proporcionavam alguma diversão quando caiam ou algo assim. Mas em geral eram calmos, focando no resultado: beber. Não que só esse tipo caidaço freqüentasse o lugar, a prova viva era esse grupo de amigos.

Depois de algumas cervejas, as línguas começam a se soltar:

- Lembra daquela vez que o Marcos foi desafiar a menina que estava jogando sinuca e tomou o maior couro de todos os tempos?
- Mas ela jogou sujo! – retrucou o loiroso e baixinho Marcos.
- Deixa de ser maricon, tu perdeu limpo.
- Não, ela jogou sujo, tava sóbria a desgraçada!

Os amigos riram na mesa, papo vai, papo vem, mais e mais cerveja desce pelo gargalo e os primeiros do grupo já estão indo a sua terceira ida ao banheiro. O pessoal começa a perder a noção e, num grupo de 20 e tantos anos cheio de solteiros, é hora de procurar por sexo macio. As apostas de “duvido que tu chegue naquela gostosa, te pago uma cerveja” são inevitáveis, mas hoje, alguém decidiu ir longe demais:

- Luíza, duvido que tu tenha peito suficiente pra sentar na mesa de um dos tiozões que estão sempre aqui bebendo.

Luíza, com o tanque cheio, mas a carteira vazia, olhou de revesgueio em volta e disse: - Olha, depende, se eu puder escolher o tiozão alcoólatra, até aceito teu desafio.

Surpresos, o pessoal sentado na mesa soltou um “oooohhhbaaaaahiiiiiiihhhh” ou coisa assim.

- Quem tu escolheria? – Disse a amiga curiosa.
- Aquele lá, que tá sempre na última mesa, no canto. – Disse Luíza apontando com a boca. Depois que os amigos olharam, achando-se discretos, ela continuou: - parece que tem um corpo bem decente, um queixo quadrado, grisalho... me parece até meio que estilo George Clooney. E aí, sem esperar resposta, pegou sua cerveja e se dirigiu à última mesa, onde aquele homem que aparentava estar por volta dos 50 sempre ficava, toda noite, bebendo sem parar.

- Posso me sentar?

O homem que olhava para dentro do copo meio vazio disse, sem erguer os olhos: - se você quiser.

- Oi, me chamo Luíza. Luíza Lane.

O homem pela primeira vez desviou os olhos do copo e olhou para Luíza. - Clark.

Luíza olhou incrédula. Aquele era Clark Kent, o Super-Homem. Que diabos ele fazia naquele bar? Porque havia sumido sem nenhuma explicação? Certamente ele já teria passado dos 100 anos, mas ainda estava muito bem, aparentando pelo menos metade disso.

- Meu Deus, mas o que houve? Por que você desapareceu?
- O equivalente a ser demitido. A humanidade não precisa mais de super-heróis. Nenhum super-herói, sozinho ou em conjunto, vai conseguir salvar a humanidade. – bebeu mais um gole da cerveja que começava a esquentar.
- Eu... eu... eu sempre li sobre você e eu sempre pensei que só o Batman diria isso, mas não você. Você acreditava e conseguia enxergar o bem em cada pessoa.
- Eu ainda consigo.
- Mas como você diz que a humanidade não precisa de super-heróis então? Depois de todos esses ataques terroristas, guerras, doenças, pobreza... nunca foi tão necessário ter um guardião da justiça como você!
- Não, você está enganada.
- Ah, é? E como é que tem tanta gente no mundo trabalhando para o bem? Doutores que vão pra lugares com guerra civil na África, ativistas do Wikileaks que revelam documentos secretos que mostram que o governo está nos fodendo, gente que trabalha de graça para educar crianças carentes, enfim, o mundo está cheio de gente tentando fazer o bem!
- Exatamente. Esses são os super-heróis de hoje em dia. Só a humanidade pode salvar a humanidade. - virou o copo com o restinho de cerveja que tinha, levantou-se, botou o casaco e foi embora, voando, Luíza imaginou.