- Venha homem, não quer fazer sua matéria? - Gritou o capataz por sobre os piados.
- Mas eu vou pisar neles, vou matá-los.
- Ah, isso não importa, esses mortos viram comida para os pintos vivos.
- Mas pintos não são carnívoros.
- Ah, esses são, nós não lhe damos comida nunca, eles matam uns aos outros. Os mais fortes, os mais aptos a sobreviverem, esses são os geneticamente superiores que a SuperChicken Co. se gaba de servir na mesa dos nossos exigentes consumidores.
Enquanto fala, de repente o capataz tropeça e cai, logo milhares, milhões, de pintos voam por cima dele que ainda consegue emitir um último grito desesperado de dor enquanto o mar amarelo lhe destroça a carne.
O editor fechou o livro, olhou pra baixo e tamborilou os dedos na mesa.
- Escuta, Carlos, sabe, ahm... - tentava falar algo o constrangido editor.
- E aí, curtiu meu novo livro?
- Pois é, sobre isso que eu queria dizer.
- Não é o máximo?
- É, pintos assassinos, heim?
- Pintos mutantes assassinos. Espere chegar à página 293. Eles dominam a casa branca e a pintam de amarelo.
- Pois é, pois é, sabe, pintos assassinos...
- ...mutantes assasssinos.
- Isso, isso, pintos mutantes assassinos. Bem, pintos mutantes assassinos não são muito, ahn, vendáveis, sabe? - Disse o editor.
- E daí? Essa é minha arte, foda-se, meus leitores vão gostar do que eu escrever.
- Hm, acho que precisaremos trabalhar mais.
- O que você quer dizer?
- Bem, talvez o usual...
- Marrecos assassinos do espaço?
- Hm, bem, talvez não dessa vez, que tal, hm, tentar outra coisa? Escrever outro?
- Como assim, porra! Livros dão trabalho!
- É, é, eu sei, bem, não podemos aceitar o livro como está. Sabe, não é muito o perfil da nossa editora esse lance de pintos assassinos.
- Pintos MUTANTES assassinos.
- Ou isso.
Carlos levantou-se ultrajado e saiu pela porta. A última coisa que disse foi “malditos editores, não entendem nada de arte”.