agosto 28, 2007

Sharapova

Assim como o lesbo-chic, se há algo que todo homem já fantasiou com alguma intrigada curiosidade ao ir ao circo é: que coisas malucas poderia eu fazer com uma mulher que pode dobrar as pernas por trás das costas até passar por cima dos ombros? Não há como resistir o pensamento. Bom, acredito eu que todo homem pensa isso. Pelo menos todo homem do circo pensa. Há uma intrincada relação hierárco-mulherística no circo, começando pela mais cobiçada (justamente a contorcionista), até as intermediárias (como as ajudantes do mágico - são realmente gostosas sempre, porém também sempre somem com seu dinheiro e isso as prejudica na hierarquia de cobiça feminina) até a escória, como a mulher barbada. Ainda que obviamente haja uma customização de acordo com as preferências, por exemplo, pessoas que gostam de surubas se encantam com as malabaristas, os que são viciadinhos num sexo oral morrem de amores pelas engolidoras de espadas e os que curtem uma zoofilia amiga não deixam de se impressionar com a versatilidade da Monga, a mulher-macaco.

Tive a sorte de trabalhar no mesmo circo com Sharapova, a contorcionista. Uma mulher pequena, magrinha, quase sem peitos, pele levemente bronzeada, cabelos loiros, olhos azuis e uma bunda tremenda. Sharapova não era seu nome quando chegou ao circo, na verdade o nome dela era uma esquisita mistura de consoantes com acento ou escritas como se estivessem sendo vistas através de um espelho que, quando ela pronunciava, tinham som de outras consoantes que não aquelas escritas. Ninguém entendia o nome da pobre russa, então acabamos apelidando-a de Sharapova, em parte porque era o único nome russo que conhecíamos e em parte porque ela até lembrava o biótipo da fomosa tenista russa gatona.

Mas minha única sorte não era trabalhar no circo com ela, nós nos divertíamos sobremaneira também. Dentro do pobre trailer, consumávamos os mais loucos malabarismos sexuais. Coisa de cinema, praticamente um Pornotrix ou algo assim. Claro que a coisa toda era muito mais com ela, que podia botar uma perna no teto e outra no chão, mas eu também tinha meus momentos, ainda que sempre acordasse todo errado da coluna depois de uma noite forte com Sharapova. Teve uma vez que ela até quase chamou os bombeiros pra me tirar da posição que denominávamos meia-nove-dividido-por-dois-aéreo-giratório-twist-escarpado.

Éramos felizes na nossa doidera sexual. Ela me satisfazia completamente, eu tinha certeza que ela pensava o mesmo de mim. Acho que já até a amava. Algumas pessoas se apaixonam por quem os alimenta, eu me apaixonava por quem sabia o que fazer na cama. Claro, tínhamos algumas divergências, como sua insistência em me passar a faca da margarina com os pés, mas nada de mais.

Obviamente eu tinha que ficar olho, afinal estava no topo da hierarquia. Estava com a contorcionista. Então sempre prestava atenção com quem ela falava, o que fazia, essa coisa toda. Não que um reles palhaço tivesse alguma chance com minha Sharapova, mas o seguro morreu de velho. Foi numa das minhas conferidas habituais que achei alguns pêlos pretos na calcinha dela. Loirosa que era, assim como eu, nada de cabelos pretos poderiam estar impunemente na calcinha usada dela. Comecei a pensar em quem poderia ser. O mágico com seus truques? O anão? O maldito palhaço? A pergunta me consumia. Mas eu era orgulhoso, não perguntaria a ela, descobriria por minha conta.

- E aí, gatão, no seu trailer ou no meu?
- Ah, Shara, hoje tô meio cansado, tive um dia foda limpando merda de elefante.
- Hm, meu espadão tá cansado é? Não tem problema, pode ir nanar então, amor, eu vou ficar conversando com o pessoal.

“A isca foi jogada”, pensei.

Apaguei a luz do trailer e fiquei de tocaia, só na bituca. Sharapova estava dentro do trailer dela já, não havia ninguém lá. Continuei esperando, resoluto. Esperei, esperei. Aí ela apagou a luz. Esperei mais um pouco. Finalmente caí no sono. Quando acordei, de susto, olhei novamente para o trailer dela. Podia ver a luz indireta ligada. Inconfundível, o tom avermelhado da luz que usávamos para transar no trailer dela me indicou que o crime já estava ocorrendo. Fui pé por pé, me cheguei perto da janela e ouvi os gemidos inconfundíveis da minha Sharapova. Mágico filho da puta, só pode ser ele. Incontrolável, meti o pé na porta do trailer. A cena era de quebrar o coração, minha Sharapova estava praticando o meia-nove-dividido-por-dois-aéreo-giratório-twist-escarpado.

Com a mulher barbada.

FINAL ALTERNATIVO (que é? Se tem até em DVD eu também posso):

Eu nem fiquei pra ver quem era o filho da puta que a estava comendo. Não, eu não me importava. Não era culpa dele. A contorcionista está no topo da hierarquia. ELA é que deveria ter se comportado. Ela que era traidora. O grande azar de Sharapova é que nos circos pequenos como o nosso, cada artista fazia diversos papéis. Uma hora se tem que limpar a bosta dos leões, outra ajudar o mágico e outra ser contorcionista. O azar, o grande azar, de Sharapova é que ela era também a assistente gostosa que fica no alvo das facas do atirador de facas. Coincidentemente, eu era o atirador de facas.

Um grande azar a acometeria no dia seguinte.