maio 02, 2007

Os 2 Porcos, o Suíno e o Lobo

"Uma fábula moderna para os conturbados tempos contemporâneos de hoje em dia"
- New York Times

"Uma crítica contundente à política do governo petista"
- Veja

"O brado da esquerda contemporânea contra a dieta imagética da burguesia"
- Guardian

"O outro lado da moeda"
- Economist

"O retrato do que o PSDB produziu como valores para este país"
- Carta Capital

"A queda da falácia estadunidense de que Free Willy não comeria o garoto"
- Le Monde

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Zé Porco nunca foi lá muito de estudar. Matriculado na Escola Municipal, pisara apenas uma vez na sala de aula, durante os outros 3 anos fingia sair de casa para o colégio, mas acabava inevitavelmente nos fliperamas do centro da cidade. Achava que estudar era bobagem. Foi só quando cresceu que se deu por conta de como era complicado arranjar um emprego quando não se sabia sequer escrever seu próprio nome. Pra falar bem a verdade é mais difícil do que você pode imaginar, porque nem circular anúncios nos classificados Zé Porco podia.

Como não sabia fazer nada, fora jogar fliperama, Zé Porco acabou morando na rua mesmo, comendo o que lhe davam - ou conseguia roubar - e dormindo onde sentia sono. Havia alguns dias tinha sido expulso da marquise perto do fliperama. Que mal havia em dormir ali? Não estava prejudicando ninguém. Tá certo que muitas vezes precisava dar aquele alivies no frobodó por ter comido aquele resto de pão de cachorro-quente com molho de bituca de cigarro molhado, como não tinha banheiro, tinha que descarregar a metralhadora anal ali perto mesmo, do lado da banca de jornais. Foi justamente durante uma cagada que veio Lobo, um policial conhecido por sua crueldade com moradores de rua, já baixando o cacetete no lombo do pobre Zé Porco, que teve que sair correndo com metade da bunda aparecendo, cagando e andando como se fosse um cavalo.

Zé Porco estava cheio daquilo, por isso procurou seu irmão do meio, Juca Porco. Não que Juca fosse lá um grande fazendeiro com equitares de terra, muito pelo contrário, mas não era preciso ter muito para superar Zé. Juca havia anos não via seu irmão mais novo, Zé Porco, e ficou muito surpreso ao recebê-lo em seu barraco.

Juca Porco fedia constantemente a gordura, já que era o “mestre” da chapa no mal encarado Xis do Zê, uma lanchonete (na falta de qualquer outro nome para um lugar onde só há gordura, foragidos da polícia e cachaça feita em casa). Juca e Zé conversaram longamente, não sem antes Juca obrigar seu irmão a tomar um banho de bacia e caneca com a água do valão que passava por ali. Não havia colchão, tampouco espaço para Zé Porco, mas também não havia para Juca Porco, então estavam conversados, morariam juntos. Juca até comentou com seu irmão que talvez conseguisse um emprego pra ele.

Mas Juca era otimista demais, pois na mesma noite em que chegara Zé, bateram à porta (ou o que é que fosse o equivalente no barraco de Juca Porco). Era Lobo, todo vestido de preto e com mais 5 ou 6 homens encapuzados. Eles entraram rasgando (literalmente) o barraco de Juca Porco e baixaram o cacetete na dupla. Deixaram eles todos escangalhados, sangrando, sem força sequer para gemer de dor. Para completar o serviço, Lobo acendeu um cigarro e, usando seu isqueiro, botou fogo no barraco onde estavam os dois irmãos. Os policiais disfarçados saíram correndo e gargalhando de alegria para fora da vila, onde estavam seus carros.

Juca e Zé foram achados totalmente queimados, mas talvez tivessem morrido antes do derradeiro churrasco. Não se pode saber, ninguém quis saber.

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Porém, não podemos nos esquecer que o nome da história é “os 2 Porcos, o Suíno e o Lobo”.

Bem, Gustavo Suíno foi aquele que estudou, casou com uma moça rica (que lhe emprestou o sobrenome). Na mesma noite em que seus dois irmãos menores, cujas caras sujas nunca mais vira nem desejava ver, estavam queimando meio vivos e meio mortos no barraco de Juca, Gustavo estava na sua poltrona favorita, lendo Goethe e fumando cachimbo. Seu roupão felpudo de cor vinho o fazia sentir-se muito confortável. Como estava com os pés sobre a mesinha de centro, assim com as plantas dos pés bem voltados para a lareira, sentia uma sensação muito boa nos dedos.

Gustavo Suíno, quando olhou pela janela, do alto do 12o andar do seu duplex, e viu ao longe o fogo na vila dos papeleiros, pensou “malditos animais, por que a polícia não dá um jeito nesses porcos?

E continuou lendo Goethe.