maio 09, 2007

Confissões de um comedor de sementes

Um texto que escrevi faz bastante tempo, publicado originalmente aqui.

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Certa vez HERBERTS GONZALES, meu amigo LATINO, escreveu em seu diário, ali pela página 2243, algo bastante interessante sobre umas SEMENTES que ele sempre ouvia um amigo falar lá no MÉXICO (não colocarei o texto em itálico em respeito aos OLHOS do que aqui lerá este relato, levemente alterado por minha própria experiência, não mexicana, mas sim LITERÁRIA):

“Era DOMINGAITE, dia internacional do NOTHING TO DO - principalmente para moradores de NOTHING HILL, como é conhecida CANOAS CITY TOWN por todas as pessoas que vivem dentro da minha cabeça - e eu, seguindo a risca a RELIGIÃO do dia, jazia no computador, do meu PAI, conversando com uma SUECA DOIDA. Então o telefone, como é do COSTUME dos telefones nessa época do ano devido a sua natureza mais primitiva, RINGOU o tema de MISSÃO IMPOSSÍVEL, o que claramente indicava que, se não estavam presentes na minha casa as 3 bilhões de pessoas com esse toque de celular, o que estava tocando era o MEU celular. Atendi-lho, como todo bom CRISTÃO deveria fazer quanto o PRÓXIMO o procura.

Era MANU FERNANDEZ que, com seu TIJUANÊS de PORTUGAL, típico dos mais clássicos filmes como UP IN SMOKE, cultuadamente nomeados como CHEEK E CHONG, falou:

- Ei, MANO.
- Não, “MANU” é você, FERNANDEZ, eu sou o HERBERTS. - Respondi eu.
- Não, MANO, estou falando pra dizer que a PATA botou um OVO. - Contra-argumentou MANU FERNANDEZ.
- Que porra de pata é essa, MANU?
- Não, MANO, eu falei em código, lembra?
- Sinceramente?
- É.
- Não lembro.
- Porra, o código que eu te disse pra dizer que disesse quando as SEMENTES estivessem aqui. - Disse FERNANDEZ impaciente.
- Ah, mas pra que código?
- Pra POLÍCIA não me rastrear, né? Não se fala no celular essas coisas.
- Mas tu disse que não era ILEGAL.
- ILEGAL não é, mas se os HOMI descobrirem qual é a dessa SEMENTINHA, podes crer que, em vez de ficarmos ALTOS, ficaremos PROIBIDOS.
- Ah. - Disse eu.
- Então, captou?
- Sim.
- Então, vamos?
- Aonde?
- PORRA, comer a droga da SEMENTE. A HAWAIAN BABE WOODROSE. Ficarmos ALTOS.
- Isso é que eu chamo de falar em código. Bom, é domingo, então sim.
- Quem tem a ver o domingo com a semente, MANO. - Quase soçobrou MANU.
- É que domingo não tem o que fazer, então vamos nessa. Onde?
- Parque Farroupilha.
- Feito. Tô lá. - Disse eu.
- Mas já, HERBERTS? Eu tenho que tomar banho ainda.
- Não, MANU, eu quis dizer que vou estar lá.
- Mas tu não disse.
- Ok, ESTAREI LÁ.
- Feito.

HOOKEOU o telefone, desligando-o, portanto.

Dei a última olhada no SITE que revela os poderes científicos da SEMENTE da planta conhecida como HAWAIIAN BABE WOODROSE, porém, mais conhecida entre os CHICANOS como uma espécie de LSD, só que muito mais fraco, geralmente sem ALUCINAÇÕES, mas sim SENSAÇÕES. Nunca tinha provado o tal troço, ainda que FERNANDEZ MANJAVA MASTER PLUS, precisava ter garantias de que não iria querer derrubar muros às DENTADAS ou tão pouco FORNECER O VÁ-DE-RETRO por ENGANOSO acontecimento. É, todos os relatos e experiências dizem que é “ok”. A exceção da Austrália, não é proibida. Só diziam que dava um pouco de enjôo, principalmente nos ESTOMBOS mais MARIQUINHAS. Eu, como verdadeiro MARIACHI que soy, acostumada as mais variadas PIMENTAS e TECALINOSAS em geral, decidi que era melhor PREVENIR do que REMEDIAR. Então, chamei no DUPLO SHOT de um REMEDINHO contra dores ESTOMBAIS, prevenindo eventual REBORDOZA nos intestinos da NAÇÃO.

Dirigi até o PARQUE e estacionei com algum CUSTO por entre um FUSCA e uma BRASÍLIA, visto que sou um descoordenado. Lá chegando, me dirigi até o ponto de encontro mais tradicional e provavelmente única referência do PARQUE FARROUPILHA: um arco do TRIUNFO em homenagem a DERROTA (?) dos líderes da Revolução Farroupilha. Digo único ponto de encontro porque, em geral, é bem difícil achar alguém em um parque onde, afora você seja um BIÓLOGO, todas as ÁRVORES que o compõe são essencialmente parecidas: tronco e folhas verdes.

E, mesmo que tu REALMENTE seja um biólogo, seria MUITO GAY DEMAIS PRA CARALHO MESMO tu dizer que vai se encontrar com outro MACHO atrás do “carvalho retorcido”. Pra não dizer estúpido, porque há ali justamente um ARCO DA DERROTA para isso - já que não faz nenhum sentido comemorar, de fato, uma derrota.

A não ser que seja para o seu chefe, mas isso é outra história e deixa pra lá.

Chegando no DEPRIMENTE arco da VITÓRIA DERROTADA, havia um monte de gente vestida de preto, conhecidos como PGSdB - PUNKS (ou PÛNKS como diria CHARLES BROWNSON), GÓTICOS e SIMPATIZANTES de BUTUQUE (ainda que não sejam MUITO simpáticos, a maioria é deste último grupo altamente organizado em sua caótica desordem, com reuniões semanais no mesmo horário e no mesmo dia ali, coincidentemente, no Parque Farroupilha). Em meio a tanta gente de BLACK TIE com o TIE totalmente opcional, foi muito fácil achar MANU FERNANDEZ com suas roupas VERMELHAS e AMARELAS, honrando a pátria amada.

- Hei, MANO! - Disse ele ao me ver.
- Não, cara, eu já disse, “MANU” é você.
- Ok, toma aí as sementes. - Disse ele estendendo e balançamdo um pequeno saquinho plástico transparente, muito parecido com aqueles que vem com parafusos em gabinetes de computador, repleto de SEMENTES.
- Porra, abaixo isso aí, MANU. - Disse eu, pegando rápido o saquinho de sementes da mão de FERNANDEZ e olhando para os lados para ver se não havia nenhum TIRA na área.
- Mas é legal, não podem te prender por isso.
- É, vai explicar isso pra TIRAS trabalhando mal-humorados num DOMINGO FRIO. Eles tem um LABORATÓRIO a tira colo pra saber que isso não é algum tipo de TÓXICO ou outra coisa MUITO LOUCA?
- Mas é tóxico, MANO. - Disse MANU FERNANDEZ a mim.
- Eu to falando dos PROIBIDÕES.
- Que tem o FUNK a ver com o assunto, MANO?

Assumi aquela cara de desprezo e silêncio que só eu sei fazer, enquanto olhava pro lado para uma pessoa imaginária e a cutucava, APONTANDO DESAPONTADAMENTE para a negligente burrice de FERNANDEZ.

Ele entendeu o recado e ENGANCHOU como DIRETO no queixo:

- E aí, vamos mastigar logo essas sementes?
- Claro, quantas eu tomo? - disse eu.
- Depende, tu quer uma dose pra bebê, normal, forte ou CHILI com comida BAIANA misturado com TEQUILA e CHUCRUTE?
- Normal.
- De 5 a 8 sementes então.
- Feito, vou no SETE que é meu número de SORTE.
- Por que é o número de sorte?
- Porque foi o número de vezes que eu caí num bar uma noite dessas. - Disse eu.
- E como diabos isso pode ser considerado SORTE?
- No meu estado, podia ter sido BEM MAIS.
- Ah.

Cortamos o papo-furado e logo estávamos mascando umas sementinhas muito engraçadas. Pra mim pareciam com gosto de amendoim, só que com um gosto mais de TERRA do que de AMENDOIM propriamente dito. Mas a textura era, definitivamente, de amendoim, só que em vez de amendoim, parecia PEDRA, só que em vez de PEDRA, quebrava como AMENDOIM.

Acho que era isso.

Terminamos de engolir as sementes, FERNANDEZ fez uma cara de quem tava comendo PEDRA com MERDA. Perguntei-lhe:

- Que há? O gosto não é ruim.
- Isso é porque é a primeira vez.
- Como assim?
- É que cada vez que tu come fica PIOR. Parece que desperta um troço adormecido na língua.
- Hm, ok, vou me lembrar disso nas próximas vezes, daqui uns meses.
- Isso aí.

Lavamos a boca ambos com suco de laranja para não ficar nenhuma casquinha e porque, AMENDOIM com PEDRA ou PEDRA com MERDA, ambos são gostos xaropes de ficar na boca.

Segundo todos os sites e sabedoria POPULAR mexicana, as sementes demorariam cerca de 2 ou 3 horas pra BATEREM afu. Depois ainda rolaria uma viagenzinha de 4 a 6 horas. Perfeito. Já que era 17h e eu tinha um churras às 18h (brazilian time, o que significava que podia chegar às 19h30).

Andamos pelo parque e sentamos, observando uma espécie de CONVENÇÃO destes ignóbeis MALABARISTAS de sinal de trânsito que praticavam sua “arte” num verdejante gramado. Esperemos o tempo passar e conversamos amenidades eu e FERNANDEZ, que compartilhava comigo o ódio por malabares e seus praticantes - principalmente aqueles que, por algum motivo jamais apurado, levam seus APETRECHOS para festas e começam a MALABARIAR em meio a todo tipo de gente dançando, bebendo e perdendo a noção de espaço.

O primeiro efeito, adverso, começou como FERNANDEZ e os fórums de internet haviam me avisado: um pouco de náusea, nada demais. Comi até um pedaço de um churros engordurado e não deu nada, até passou um pouco. Mas logo voltou de novo.

Meu celular avisou-me que às 18h havia chegado, era hora de cruzar o parque, achar meu carro, driblar o flanelinha e, finalmente, dirigir-me à casa de todos os caroneiros que acharam no Guia do Mochileiro dos Churrascos o meu nome como a melhor opção custo/benefício para chegar no churrasco - era como um táxi, só que não pagava, mas também era como um ônibus, só que não precisava ir até a parada.

Não entendeu?

Entenda:

Tenho um PEQUENO carro, uma espécie de evolução de um FUSCA, só que, por ser um carro projetado aparentemente para PIGMEUS, a tarefa de colocar 5 pessoas neste carro é deveras árdua e extremamente desconfortável, mais ou menos como dobrar um mapa rodoviário.

E se com 5 pessoas já é difícil, imagine com SEIS.

Não foi fácil. Recorremos a todo tipo de ESTRATAGEMA para preencher o veículo, mas a solução mais coerente que encontramos foi bastante SIMPLES, se compararmos à física quântica: três atrás, três na frente. Para que isso pudesse ser feito sem prejudicar a NAVEGAÇÃO do veículo, estabelecemos as seguintes regras: Alguém no banco de TRÁS trocaria as marchas ao meu sinal (que deveria acontecer quando eu pressionasse a embreagem). Ao dobrar a direita, as DUAS pessoas que estavam em UM banco da frente deveriam checar o espelho e dizer se a barra tava limpa gritando “já chegou o disco voador”. E, principalmente, era proibido peidar.

Ao pegar o último integrante da TRUPE que formou o CIRCO do meu carro, olhei, como de costume, para o ODÔMETRO que, apesar do nome, não calcula os ODORES do carro, mas sim quantos quilômetros esta belezinha já havia percorrido desde o seu nascimento.

Não acreditei no que vi.

Olhei de novo.

Confirmei, dizia exatamente “10.666 km”. Até o carro sabia que aquela seria uma noite INFERNAL.

Os primeiros efeitos, além da ainda presente leve náusea, começaram a se apresentar. Eu tava meio cansado, com preguiça de me movimentar e com um sorriso MAROTO que eu tinha que me concentrar pra tirar do rosto, como estes malditos EMACONHADOS, pode-se dizer. Um dos presentes no carro comentou que eu parecia cansado. Respondia quase tudo em monossílabos - nada de muito diferente do normal quando me sinto cansado, é verdade.

Ao chegar no local do CHURRASCAITE, precisamente num destes condomínios meio fechados meio abertos onde há uma série de prédios e tudo mais, expulsei a CANAILLE do carro e procurei um lugar pra estacionar. Fiz-o com MESTRIDÃO.

Cheguei na churrasqueira e já sentia uma vontade incontrolável de sorrir. Abri a porta já abanando as mãos e sorrindo, os presentes comemoraram minha chegada com toda aquela coisa de “JOTA QUEEEEEST” já tradicional quando eu apareço. Deve ser algum sinal em código para que os presentes agarrem suas bebidas e tomem tudo logo, antes que eu acabe com o álcool da festa. Talvez não seja, mas, na hora, foi divertido pensar isso e, claro, SORRIR.

Mas, hoje eles teriam uma surpresa.

Havia decidido não beber. Primeiro porque eu nunca tinha provado a SEMENTE e, portanto, não sabia que efeitos poderiam dar no meu organismo, queria ver o que exatamente havia de efeitos. Segundo que dirigir bêbado eu já me tornei um expert, porém BEBAITE e DROGADITO PLUS eu não posso dizer o mesmo e não quero nem TENTAR.

Mais e mais pessoas começaram a chegar e logo o meu sorriso era INCONTROLÁVEL. Enquanto as pessoas bebiam cerveja, enquanto sentadas nas mesas, eu me sentei na mesa, apoiei a mão no queixo, cobrindo levemente a boca, isso bastava para encobrir o meu sorriso boa parte do tempo.

Eu sentia uma calma EXTREMA. Se, de repente, a churrasqueira saísse do controle e o salão de festas pegasse fogo, provavelmente eu sairia calmamente - sorrindo - pela saída mais próxima e, provavelmente, assobiando “Lucy in the Sky with Diamonds” dos Beatles.

De repente eu senti que os meus sentidos estavam APURADÍSSIMOS. No meio de uma barulheira de gente conversando e som alto, eu ouvia perfeitamente o que as pessoas estavam conversando do outro lado da sala, no início até chamei na MONGOLISSE e tentei responder, só que, obviamente, ninguém prestou atenção. Não estou certo, mas acho que por ouvir muito melhor, creio que ainda dificultava pras pessoas a minha volta eu estar falando mais baixo que o normal, já que eu ouvia minha voz na mesma altura de sempre. ACHO que falava mais baixo, já que muita gente perguntava “o quê” quando eu falava, mas também pode ser um outro sintoma que eu senti: de tanto sorrir, a boca fica meio “travada”, é meio estranho de falar a primeira frase de uma conversa. Além disso, o cérebro parece funcionar muito mais rápido que a boca, e eu pulava de um assunto para o outro com uma desenvoltura que, em alguns casos, percebi claramente que desconjuntava alguns dos meus interlocutores.

A náusea começava a diminuir.

De repente dei uma risada e todos os sons, enquanto eu ria, pareciam estar sendo ouvidos por mim como se eu estivesse embaixo D´ÁGUA. Percebi que TODA vez que eu dava uma risada mais alta isso acontecia. Me diverti com isso.

Meus sentidos estavam ótimos, ampliadíssimos.

O tato e a visão estavam como nunca antes, ainda mais pra mim que sou um MONGOLÃO e derrubo TUDO que pode ser derrubado e, quiçá, até o que não é POSSÍVEL derrubar. Fui servir uma PEPSI num copo de PLÁSTICO (desses que SEMPRE viram quando tu, ou melhor, EU, vai servir) e, CARALHO, eu via cada gota do líquido da garrafa escorrendo perfeitamente para dentro do copo, sendo que este último sequer se moveu de tanta perfeição que havia no movimento. Servi o copo até a boca, como é de meu costume.

Notei que a cor da PEPSI estava mais viva, mais GOSTOSA.

Bebi o primeiro gole e senti que o meu paladar também estava ESTRATOSFÉRICO. Foi MUITO difícil engolir, passei o refri de um lado para outro da boca, meio que como um BOCHECHO de FLÚOR, tentando ao máximo não demonstrar que fazia isso aos meus CONFRADES. Finalmente consegui engolir, mas foi difícil, a sensação era de que eu tinha o MAR MEDITERRÂNEO inteiro na garganta. Entendi que tinha que tomar goles pequenos. O refri que servi até a boca DEMOROU pra ser consumido.

Uma das sensações mais presentes era na visão, era estranho, eu não tinha nenhuma alucinação nem nada, mas o mundo era diferente. Minha visão parecia que estava mais longa do que o normal, fazendo com que, quando eu olhasse pra baixo, eu parecia estar mais baixo do que a minha altura normal e, quando olhava pras pessoas, parecia que eu estava mais perto.

Respondi umas 32 vezes que estava tomando remédios e, por isso, não ia beber naquele dia. Todos estranharam mais aceitaram.

Logo os corações de galinha estavam prontos, botei o primeiro na boca e senti todos os temperos. A textura era esquisitona. E o coração subitamente era grande de mais pra minha boca, parecia que eu estava tentando mastigar uma galinha INTEIRA. Desta forma, eu tinha que mastigar muito mais vezes que o normal.

Entendi que essas SEMENTES seriam de grande ajuda pra quem faz dieta. Pense: o cara come em pedaços PEQUENOS, tem que mastigar BEM e, melhor ainda, sente o tempero das coisas ainda melhor do que já é. Comendo devagar, teu corpo digere melhor e tu tem a sensação de estar saciado mais cedo, comendo, portanto, menos - a não ser que tu seja um OLHUDO de marca maior.

A partir daí era só alegrias, fiquei sorrindo, transitando entre grupos, absorto com os detalhes que via as vezes, e irritando algumas pessoas que queria irritar sempre sorrindo. Usei como principal disfarce as mensagens de celular, aí sorria descaradamente mostrando que falava com uma PEQUENA NOTÁVEL (que gerou comoção interna entre algumas pessoas pra saber quem era), comia pedaços MUITO pequenos e policiava-me e olhava pros outros de longe pra saber se alguém estava notando algo estranho em mim. Mas as SEMENTES são da tranqüilidade, tu pode ir num jantar formal que ninguém vai perceber que tu tá levemente alterado - talvez alguém que te conheça demais, sei lá.

No fim da festa, perto das 23h, os efeitos já tinham diminuído bastante. As percepções continuavam afiadas, mas o mundo já não era tão diferente, eu já podia controlar meu sorriso e a carne já descia mais fácil. Peguei UMA ceva e senti que era amarga pra caralho. Mas boa. Demoraram pra notar que eu tinha uma nas mãos, quando me perguntaram desde quando eu estava bebendo eu simplesmente sorri e disse que “é segredo, só eu sei”. Aí o cara olhou pro meu sorriso e disse “é, pela tua carinha foi mais de uma, heheheh”. Apenas sorri em afirmação, ainda que fosse mentira, tinha tomado apenas meia lata.

Lembro-me de me pegar contantemente sorrindo, como se tivesse um pequeno segredo que ninguém soubesse, e tateava no bolso as outras sementes, como Bilbo fazia com o Um Anel. Quando percebi isso achei mais engraçado ainda.

No fim da festa, calminho como nunca, peguei o carro e fui embora sozinho. Impressionante como a minha visão estava boa de noite. Eu notava todos os detalhes da estrada, carros, placas, tudo. Nada escapava ao meu atento olhar. A calma atingiu até a forma com que eu dirijo. As curvas que eu costumava fazer a 60km/h eu fazia a 40km/h, os lugares que andava a 80km/h eu estava a 60km/h, porém, devido a minha grande percepção, a velocidade parecia alta de toda forma - o que é verdade, uma curva a 40km/h é rápida suficiente, não acha?

Cheguei em casa.

Meu pai estava pegando um refri e umas bolachas. Falei com ele pra ver se ele notava algo.

Nada.

Porém, minha cabeça estava a milhão e eu percebi que eu geral eu não falo com ele. Constatei que deveria falar mais com meu pai, até teria dado um abraço nele, mas aí ele teria CERTEZA que eu devia estar ON DRUGS e isso não seria bom, principalmente porque, quando olhei no espelho, minhas pupilas estavam GIGANTALHUSCAS. Aliás, foi bastante desagradável tirar as lentes do olho, porque eu senti meus dedos cutucando os olhos mais do que normalmente eu sentiria.

Deitei na minha cama, comi um BRIGADEIRO (porque se eu falasse que deitei na CAMA e comi um NEGRINHO ia soar meio VEADON) - caramba, cara, como BRIGADEIRO é bom demais pra caralho mesmo quando tu está com um SUPER paladar, heim?

Escrevi um pouco num caderno antigo antes de dormir enquanto via o final do jornal de domingo e cheguei a constatação “mas que jornal provinciano, heim? Noticiar os 100 anos do sr. XXXXXX? Fala sério”. Eu ouvia perfeitamente o barulho que a caneta fazia no papel. Ainda que minha coordenação estivesse melhor, minha letra continuava a mesma PORCARIA que sempre foi. Amaldiçoei não possuir um computador que funcionasse pela força do pensamento, já que já estava “escrevendo” mentalmente este texto desde que entrei no carro e vim pra casa.

Decidi largar o caderno e relaxar. Afinal, eram as últimas horas de viagem e eu não queria gastá-las fazendo qualquer outra coisa que não aproveitar. Amaldiçoei minha sorte por não ter nenhuma SUAVE me acompanhando, já que, se o TATO amplia PRA CARALHO, imagine o que o MEU sentiria na hora do RETUMBANTE VAI-E-VEM da PIROCA ENSANDECIDA.

Depois que escrevi tudo isso, percebo como é difícil descrever sensações e digo: só estando lá pra saber o que foi.”

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E assim acaba o relato do amigo HERBERTS GONZALES, como foi escrito na página 2243 de seu diário.