maio 14, 2007

Benfloginando.

Encher a raba de Benflogin e descrever seus efeitos medonhos não é novidade pra ninguém, mas na falta do que criar, vale tudo. Melhor isso do que ferver, em banho maria, FILMES FOTOGRÁFICOS em busca da produção de um CHÁ entorpecente para as mentes mais insanamente psicodélicas. Acredite, quando você acha que nunca houve alguém idiota o suficiente pra fazê-lo, sempre há.

Pra quem não conhece, Benflogin é um remédio pra renite, bronquite e toda sorte de "ites" que aflijam o primitivo sistema imunológico do homem moderno. Não se sabe se o efeito ESQUIZOFRÊNICO do medicamento foi descoberto graças a um médico que, em seus garranchos apressados, receitou uma dose cavalar a alguma criança que saiu dando piruetas ao ver gnomos vestidos de shortinho ou algum esperançoso suícida que buscava livrar-se de sua existência e o máximo que conseguiu foi uma grande viagem e uma puta caganeira, mas, indiferente do descobridor, o novo barato do momento passou de boca em boca a cada jovem junkie que ouvia, atrás da porta, os relatos das viagens dos seus pais ex-hippies.

Como bom jovem filho de ex-hippies, eu não fui diferente. Impulsionado pela bula que chorava "Altas doses podem causar alucinações visuais, auditivas, ......." e desconsiderando a parte que dizia "...perda de apetite, insônia, vômito, ataque epiléptico, coma e morte", decidi que esquecer minha filosofia de "nada de drogas", naquele momento, seria o apropriado a fazer. Afinal, eu estava bêbado com alguns litros de vinho tinto de boteco, junto com outros no mesmo ESTADINHO, e estava me dirigindo a uma rave. Rumo à farmácia, é isso que eu disse.

Não foi difícil comprar, sem levantar grandes suspeitas, TRÊS CAIXAS de Benflogin para ser partilhado com o pessoal, apesar de sua tarjinha vermelha e aquela crássica recomendação de vender somente com prescrição médica. Ah, que isso, todo mundo no Brasil é meio médico, sr. vendedor da farmácia.

DISCLAMER: Partindo do princípio politicamente correto: eu não tomo mais estas boletas desde 2001 e, mesmo assim, tomava no máximo de 3 em 3 meses, pois o negócio começa a perder o efeito e você tem que tomar cada vez mais, o que te intoxica e te deixa mais próximo da imprevisível DOSE LETAL, que, por sinal, pode ser até a PRIMEIRA, dependendo do organismo do rapeize. Além disso tem uma ressaca altamente fodida, já que proporciona aos intestinos a velha e boa caganeira desenfreada, azia infernal, incapacidade de dormir durante 1 dia e toda sorte de efeitos MUITO prolongados (mais de 10 horas). Sem contar a incrível possibilidade de você acabar num caixão ou no hospital público mais próximo (até hoje eu desconfio que minha apendicite veio daí). Então, não diga que eu incentivei, tome por sua conta e risco. Eu aconselho não.

Antes deste dia, eu anteriormente já tinha tomado as boletas, mas foi uma decepção total. Apesar das 8 boletas ingeridas – quantidade MUITO boa pra 1a vez -, não houve efeito algum, só insônia. Meu organismo é conhecido por agüentar uma boa série de tosqueiras químicas sem os efeitos que a maioria das pessoas conhecem – maconha nunca fez efeito algum, fora vômito desenfreado se eu estiver muito bêbado. Pra se ter uma idéia, eu tive ressaca apenas DUAS vezes na minha vida, pra quem me conhece, sabe que eu não brinco em serviço na hora de entornar o caneco.

Desta vez, decidi, embalado pelo excesso de vinho no sangue, tomar umas 15. Tinha de fazer efeito.

Umas duas horas depois, já na fila da rave, achei que o remédio começava a fazer efeito, vi pessoas com anteninhas na cabeça e olhos de cores inexistentes na natureza, mas eram só os habituès das raves. Algumas pessoas acham que pra ir numa rave você tem de se fantasiar de algo de outro planeta. Suspirei e continuei conversando com as pessoas da fila. Conversar com esse tipo de gente é sempre uma experiência enriquecedora para saber O QUE NÃO DIZER quando do lado de alguém inteligente. Sorrio pela imbecilidade alheia, concordo com seja lá o que for que está guria de cabelos cor de limão estragado está proferindo ao tocar a mão na bunda da sua amiga gordinha.

O efeito do vinho tinto, misturado com sabe-se lá qual germes e diversas outras susbstâncias insalubres e provavelmente tóxicas, parecia ter chegado ao seu ápice. Eu estava leve, a cabeça com um estranho zunido e com um pequeno peso pendendo para um dos lados e as pessoas todas pareciam falar mais alto que o normal, fazendo eu ter de gritar pra ser ouvido pela guria do cabelo limão, mesmo eu estando a uns cinco centímetros da orelha, cheia de piercings, dela.

- Sérgio. – ouvi a voz de um dos meus amigos me chamando, atrás de mim.

Virei-me e eles estavam conversando entre si, sem sequer olhar pra mim ou notar que eu estou olhando.

- Que que foi? – cutuquei as costas de um deles.
- Hm?

Virei-me e compreendi que o entorpecimento não foi em vão. Começava a fazer efeito. Percebi o segundo efeito com espanto e um pouco de admiração: o tão falado " efeito matrix", onde as coisas se movem devagar, quadro a quadro, deixando um RASTRO, possibilitanto assim que uma simples chacoalhada de cabeça, em um ambiente com algumas lâmpadas, se torne uma gigantesca onda de raios laser. Passei a brincar com efeito, balançando a mão em frente aos meus olhos, sem me tocar que devia estar parecendo um pinél, de cabelo raspado e tudo.

Ao finalmente entrar no galpão que transbordava graves fortíssimo, uma cena espantosa ao adentrar a pista de dança. Foi uma sensação maravilhosa, aquele galpão vazio, um som absurdamente alto, e milhares, não, milhões de luzes piscando e refletindo pela minha visão "quadro a quadro". Até hoje m lembro desta cena, foi uma beleza. Comecei a dançar, sem sentir direito os pés, mas não era importante, eu estava solteiro novamente e as chicas me esperavam ansiosas, com seus peitos suados e seu entre pernas ardendo, a vida foi boa comigo.

Umas duas horas de sacolejo incessante, gritaria esporádica e, com alguma sorte, uma ou outra troca de saliva, começo a sentir uma sensação desagradável no estômago. Algo como uma GRAN vontade de cagar que não faz nenhum sinal no FIOFÓ, como se algo dentro do ESTÔMBO fosse explodir. Em uma pequena vertigem, suo frio e então a explosão: ouço um grande "boom", o som fica completamente baixo, ouço meu coração batendo como num filme de suspense, tudo a minha volta fica lento, me assusto, dou uma respirada muito forte e barulhenta, como se estivesse em um lugar sem ar que de repente se enche de oxigênio. Tudo volta ao normal, na medida do possível, com a rapidez e indiferença com que houve o boom.

Como herança do BBBB, Big Bang By Benflogin, o suor frio na testa. Vejo um TRAVECÃO, de uns 2 metros de altura e azul de tão preto, me olhando de forma pouco amistosa, - que diabos estou fazendo? – eu penso. Ele, não, ela, ahn, aquilo vem em minha direção com cara de poucos amigos, afastando o povo aglomerado, que se interpunha no caminho entre o traveco e eu, com pouca feminilidade, na verdade, bastante macheza. Apertei o FURDUNÇO, de modo que sequer uma agulha passaria, e então o traveco passou por mim, não sem me dar um encontrão no braço direito. Um segundo depois, déjà vu, a mesma cena, o traveco me dando um ombraço novamente, na terceira vez que eu senti o encontrão, senti como se a bicha tivesse passado uma NAVALHA no braço. Me borrei todo e comecei a ficar frio, como se estivesse perdendo sangue, e aquele barulho de filme do coração parando de bater e os sons super abafados, tirei meu casaco de manga comprida e analisei meu braço, sem escapar da curiosidade das pessoas na minha volta pelo gesto estupidamente estranho. Tateei, sem sucesso, pra encontrar o ferimento. Graças aos céus foi só uma grande bad trip, meu braço tava inteiro e meu casaco também.

Depois dessa, decidi que seria mais prudente me sentar um pouco e tomar um pouco de água quem sabe. Comecei a sair da pista e avistei o Rafa, vestido de AZUL, um amigo que disse que não iria na rave. O Rafa é meio parecido comigo, cabelo curto e escuro, porém mais gordo e com o nariz vermelho como o bozo. Quando cheguei perto dele, já com a mão aproximando-se da barriga dele, para dar um pequeno soquinho como cumprimento, percebi que havia me enganado, não era o Rafa, mas sim uma LOIRA, magra, vestida de VERMELHO. Enfim, o terceiro efeito famoso, a transmutação de pessoas. Depois de me explicar pra loira, evitando obviamente dizer que a confundi com um homem, me desviei pras almofadas do lounge, sem grandes contratempos, se você não considerar tropeçar nos próprios pés um contratempo. Graças a Deus, pelo que pude constatar, a transmutação se desfaz quando se chega perto das pessoas, seria bastante vergonhoso pra minha reputação estar no mais ESFREGA com um TRAVECÃO ou assemelhado de genética masculina.

O lounge estava meio cheio, bêbados caídos dormindo com o rego pra fora, meninas que perderam a elegância, casais (de toda sorte de opções sexuais) se esfregando, uns mortos, enfim. Havia um pequeno espaço sobrando em uma almofada, parcialmente ocupada por um sujeito parcialmente morto. Me juntei a ele, porém sentado. Olhando para os lados e até me divertindo com uma cena ou outra.

Ouvi meu nome ser chamado, mas sabia que não havia conhecidos à minha volta, como um esquizofrênico que tenta ignorar sua doença, tentava não parecer perturbado. Apesar de ser bastante chato ver o que ninguém mais enxerga. Meu olhar oscilava pra um ou outro lado, até que meus olhos fixaram-se numa das luzes negras do teto. Um ou dois minutos depois, acho que foi isso, eu vi a lâmpada negra se transformando em nada mais nada menos que o PADRE QUEVEDO, apontando o DEDÃO pra mim e dizendo com aquele sotaque bastante singular:

- Vamos dobre este dedo, vamos, vamos, mate me! Não és o diabo? Pois mate me!

Comecei a rir sozinho, podia ignorar meu nome, mas ignorar o PADRE QUEVEDO seria muito pra mim. Acho que devo ter imitado a ação do padre, em clara achincalhação. Fodeu, havia me esquecido que eu era o único a ter tais delírios e, mesmo em uma rave, minhas ações se mostravam bastante incomuns.

Olhei pro lado e uma menina me observava, abaixei o dedo devagar, me toquei que estava sendo muito pateta. Ela me perguntou:

- Tu tá sozinho?
E eu, num acesso de ingenuídade TREMENDOUS, disse:
- Não, meu amigos tão por aí.

Ela puxou mais uma ou duas tentativas de diálogos. Eu não entendia o que ao certo ela queria, estava realmente TRANSTORNADO pelos entorpecentes, para não entender o que ela queria. Acho que depois ela me agarrou, mas não estou certo, podia ser uma ilusão ou uma peça pregada pela memória. Bem, não importa. Levantei-me e fui dançar. Sem parar, até às 8h30min. Cheguei em casa, deitei na cama e fiquei olhando teto, não conseguia dormir de jeito nenhum. Ao meio-dia me levantei, note que eu não acordei, apenas levantei, pois não durmi. O repé foi infernal: caganeira desenfreada, mal estar estomacal e os efeitos esquizóides até a OUTRA noite.
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Muitas drogas.