março 20, 2007

Live a little lustful life

Acontece com todo mundo certa hora da vida. Você se vê sentado numa lanchonete com muitos amigos, uma coca-cola com limão e gelo (apenas uma para todo o bando), e aí alguém decide se manifestar sobre como seria legal formar uma banda.

- É isso aí, véi, vamo fazer uma banda? - disse algum dos caras.

- Mas ninguém aqui toca nada. - protestei, sempre negativista (minha filosofia era: se pode não dar certo, por que tentar?)

- Eu toco. - protestou o Gordo Bola. Gordo Bola na verdade se chamava Stratovarius ou coisa assim, era descendente de húngaros ou bielorussos, não estou muito certo, mas na real o Gordo Bola era o único que realmente tocava um instrumento ao que parece.

- Que tu toca uma no banheiro, Gordo Bola... - Falei, logo depois entrou a claque com as típicas risadas exageradas dos meus amigos. A verdade é que adorávamos encher o saco do Gordo Bola, não só porque era um gordão, mas era uma espécie de tradição da turma. God knows why, algumas pessoas são perfeitas para sofrerem nas mãos da turma.

- Tá bom, tá bom, mas que tipo de banda seremos?

Aí que começou o maior impasse de todos os tempos desde Noé 2 X 3 Moisés (também conhecido como Zé Moah). Uns queriam tocar música erudita, outros death metal, outros punk rock, outros covers do Guns e há quem diga que houve até um sujeito que disse que queria tocar música sertaneja, até que finalmente usei a lógica.

- Espera, espera, espera. Tudo é questão de objetivos. Peguemos esse pedaço de papel...

- É um guardanapo. - Disse Dick Moe.

- Bom, é papel. - Respondi-lhe.

- Está sujo.

- Ora, pare de reclamar. Continuando, peguemos esse pedaço de papel e vamos traçar os objetivos estratégicos da banda, ok? - Não estranhe, meu pai é um proeminente executivo da FNORD Co. e eu cresci enxergando minha vida através de uma visão de longo prazo e um BSC. - Então, qual o objetivo da banda?

Houve um momento de silêncio, quebrado pela voz hesitante de Pelópidas:

- Hm... tocar música?

- Não, não, não, não, a música é nosso corework. Mas precisamos definir qual é realmente o objetivo da coisa.

Agora todo mundo estava confuso, até que finalmente alguém lançou no meio da discussão:

- Ora, é simples, o objetivo é comer gente!

Todos aplaudiram, era muito óbvio, queríamos formar uma banda com o objetivo de trepar, éramos um bando de losers numa mesa de lanchonete às 3h da tarde com apenas UMA coca-cola.

- Certo, certo, certo. Já temos nosso objetivo. Mas que tipo de banda faremos?

Mais silêncio. Finalmente alguém disse:

- Olha, só pode ser pagode. - imediatamente houve uma série de protestos e vaias, como assim “pagode”? Éramos metaleiros! Mas o sujeito continuou, muito eloqüente: - escutem, sei que pagode é odioso, mas encarem os fatos, somos 15 pessoas, o único tipo de banda que tem tanta gente é uma orquestra ou uma banda de pagode. Considerando que nenhum de nós sabe tocar qualquer instrumento, fora o Gordo Bola que toca uma droga de um clarinete, tocar música clássica não é a primeira opção que deveríamos pegar.

Aí Dick Moe ainda completou:

- E orquestras só atraem gente velha e feia.

Alguém acabou entrando no argumento:

- Bom, de toda forma, metaleiras são todas gordas também - ou tomam prozac e andam com uma faca na mão.

- E bandas de pagode sempre atraem aquelas loiras gostosas de boné!

Estava formada a banda.

No início foi bem complicado, ninguém aceitava muito bem uma banda de pagode com guitarras distorcidas, vocal gutural e camisetas do Black Sabbath e Ramones. Nosso nome, “Pagode do Satã” também não ajudava. E, pra falar bem a verdade mesmo, o pessoal do pagode não gostou nada quando fizemos uma versão de Iron Maiden, the number of the beast, em versão pagode, começava assim: “quas quas quas, six, six six, the number of the beastaaaaaaaah”.

Acabamos sendo chamados para o Jô, aí bombou, fizemos turnê com Los Hermanos, Zeca Pagodinho e Ramones, no incrível Rock in Sampa, o evento mais eclético de todos os tempos. Daí foi um passo ao estrelato, mulheres fáceis e drogas pesadas.

Todo mundo morreu antes dos 20 e só eu fiquei, porque fiz um pacto com o Chifrudo que consistia em termos muito simples:

- Pare de tocar essa merda e foder com o meu nome e o do Inferno, essa organização tão séria que construiu sua imagem ao longo dos séculos, e eu te deixo ser rico, famoso e comer quem tu quiser.

- Feito, mano. Mas não rola uma vida eterna também?

- O que você quiser, só pare de tocar essa droga.

E foi o fim da “Pagode do Satã”.