março 30, 2007

Histórias Extraordinárias

Essa coletânea de contos do Edgar Allan Poe é bem interessante, ainda que bastante caótica. Dá pra ver um movimento muito claro do início dos contos, onde claramente o terror e o sobrenatural dominam e a parte do meio pro fim, onde ele distribui uma tonelada de cientologia dos anos mil-oitocentos-e-sabe-se-lá. Se não todos os contos, pelo menos a maioria são narrados em primeira pessoa, de modo que geralmente há duplas na ação do texto.

Na primeira parte, nos contos de terror, geralmente há o narrador (pelo que me lembro nunca o próprio Poe declaradamente) e um sujeito geralmente perturbado por alguma enfermidade mental, excitação cerebral e uma pá de eufemismos para “veadinho cheio de manias extravagantes que pode ou não ser totalmente pirado”. Nos contos de terror, Poe não faz muita questão de explicar nada e deixa tudo nas mãos do sobrenatural.

Já na segunda parte, onde ele vira um nerd dos dados científicos de antigamente, impera a lógica e a dedução. Realmente, Poe foi o precursor total do Sherlock Holmer, inclusive no formato “narrador que é ajudante do detetive” e “detetive ultralógico que desvenda a cor do sapato de alguém olhando para as estrelas”. Segundo entendi, uma das histórias é inclusive meio real, onde o sujeito desvendou o crime só olhando as matérias dos jornais. Sabe-se lá.

Aí um desdobramento da segunda parte é praticamente ficção científica, com toda restrição orçamentária e tecnológica dos anos mil-e-oitocentos-e-sabe-se-lá-quando, tipo um sujeito que alega ter viajado até a Lua em um balão, um robô que joga xadrez e essa coisa toda. Essa parte é sem dúvida a mais chata do livro, já que são explicações e mais explicações lógicas de como isso poderia ou não poderia existir. Quer dizer, na época de Poe, era realmente muito útil um nerd maluco que sabia usar a cabeça para desmascarar um tapado que dizia ter ido à Lua com um balão ou um outro espertalhão que colocava um sujeito dentro do seu “robô de jogar xadrez”, mas ler isso nos dias de hoje é como ouvir um cientista falando sobre uma teoria cheia de embasamentos e cálculos: um saco.

No overall, o Histórias Extraordinárias é bem legal, mas agora preciso pegar um livro contemporâneo pra contrabalançar.

Se estiver nas pilhas de comprar, aqui é bem baratinho (uns 10 pilinhas)