Maria era uma adolescente muito recatada, religiosa e correta. A menina, temente a deus, sempre rezava antes de dormir, ao acordar e quando mentalmente sabia que pecara de maneira irresponsável. Ia na missa 3 vezes por semana, usava saias longas, pouca maquiagem e sentia orgulho em dizer que se casaria virgem, assim como seus pais também não faziam-se de rogados para alardear a escolha cristã da filha como a benção do Senhor Himself.
Ela não era uma moça de família rica e tradicional, mas os valores cristãos arraigados em sua família destacavam-nos na vizinhança suburbana.
Maria conhecera na igreja um jovem rapaz, mais ou menos de sua idade, muito religioso e simpático que tocava bateria na Banda Cristã de Moços Cristãos durante os cultos. Chamava-se José o rapaz e, afora tocar bateria em louvor ao Senhor, era um humilde carpinteiro temente a deus.
Conversa vai, conversa vem, Ave Marias e Pai Nossos recitados, Maria e José acabaram assumindo publicamente um namoro cristão - nada mais adorável e correto - segundo as palavras do padre Roque Rauber. Maria e José, como bons cristãos, apesar de se beijarem e segurarem na mão, jamais eram vistos com aquilo na mão e a mão naquilo, tão pouco apareciam no maior arreto, ainda que fossem adolescentes com os hormônios em efervescência, eram tementes a deus e não deviam fornicar antes do casamento até que a morte os separasse. Assim que as coisas eram e deveriam ser.
Depois de 6 meses de namoro, era claro que o relacionamento dos dois evoluía a passos largos, deixando a família de ambos muito satisfeitas com a escolha cristã dos seus jovens filhos. Como era de costume no domingo, Maria saia da igreja acompanhada de José para tomar um sorvete. Ainda que tivesse a confiança dos pais, jamais era permitida de chegar após às 7h da noite, coisa que José e Maria cumpriam religiosamente.
Maria olhava no relógio, parecia tensa com alguma coisa.
- Maria, em nome de deus, nosso senhor, o que a está afligindo?
- José, é só que daqui a pouco já temos que ir.
- Eu sei, por isso devemos aproveitar o máximo possível. - disse o rapaz sorrindo maliciosamente, passando a mão pela bunda de Maria.
- José, eu preciso te contar uma coisa.
- Pode dizer, meu amor.
- Eu tô grávida.
O mundo de José deu um pause. Ele ficou imóvel na cama do motel por alguns segundos que pareceram décadas para Maria que, muito abalada, não sabia como seu namorado reagiria, de modo que puxou o lençol para si, cobrindo seu corpo nu.
- José, você me ouviu, tô gravida. O que vamos fazer?
O rapaz nada respondeu.
- José? José!? O que vamos fazer, José?
Finalmente o rapaz pareceu se recuperar do choque, abrindo a boca pela primeira vez depois da funesta notícia de Maria:
- Será que teus pais acreditariam se a gente disser que foi o Espírito Santo?