maio 31, 2006

Marla

Capítulo I
Brigas a dois - mudanças a um - sexo a três


- É!
- Não é!
- É!
- Não é!
- É!
- Não!
- É, sim!
- Não é!
- É!
- Não é, não!
- Claro que é!
- Não é mesmo!

A essa altura eu não fazia a menor idéia do que eu achava que “é” e provavelmente ela não fazia a menor idéia do que “não é”, de modo que se um dos dois porventura se enganasse ou até mesmo mudasse de opinião e utilizasse o argumento do outro, também mudaria o argumento da outra pessoa. O importante, como se pode ver, é que discordávamos.

E, caralho, discordávamos um bocado.

Essa pode não ter sido uma das discussões mais produtivas que tivemos nos últimos meses - e a gente discutia bastante nos últimos meses - mas teve algo de sublime, de impasse definitivo, como um sujeito segurando uma arma apontada pra própria cabeça, ameaçando matar-se para um outro sujeito que fazia o mesmo para a própria cabeça. Então lancei meu último e derradeiro argumento, aquele que todo mundo usa num impasse como esses:

- Ah, vai se foder!
- Vai você! - ela imediatamente rebateu, como quem apenas quer continuar a discussão.

Eu ignorei. Eu sabia que ela gostava de discutir e odiava ser ignorada. Marla era o tipo maluco de mulher com quem me envolvi durante toda a minha vida. Não importa o quão santa ou pervertida era, se ia a igreja (como uma ex-namorada chamada Maria, que na verdade era finlandesa e não hispânica) ou se vendia crack para crianças na esquina (como a infame Jô-jô, outra ex), o que importa é que eram sempre extremamente loucas por algo, às vezes por mim, às vezes por meu pau, às vezes por minha irremediável falta de dinheiro e malandragem, às vezes por que às tratava como putas, às vezes por que achava que eram santas, às vezes por tudo isso e às vezes por qualquer coisa externa que simplesmente não tinha a ver comigo, mas sim com as circunstâncias, como o fato de eu ter um apartamento e não cobrar pra elas morarem. Estas últimas eram chatas pra caralho, mas em geral ficavam contentes em ter um canto e me agradavam de tudo quanto é jeito. Para mandá-las embora também era simples, bastava esconder coisas de valor e dar sinais, uma semana antes, de que as coisas não iam bem - elas rapidinho arranjavam um outro otário com quem morar e davam o fora sem grandes problemas (exceto Cíntia, que cagou em todas minhas duas panelas).

O problema é que Marla estava lá não pela grana, mas por mim, e eu não sabia como lidar com ela. No último mês tive a esperança de todo dia voltar pra casa e encontrar o apê vazio, mas isso nunca acontecia. Então passei a vagar algumas horas na rua e chegar muito tarde, para ver se a pegava dormindo e saia antes de ela acordar. Mas o problema é que a santa puta da Marla sempre me esperava acordada, gritava comigo porque eu chegara tarde, mas sempre tinha comida quente depois dos gritos e isso me fazia ir pra cama feliz e dar uma nela. Ela tinha até começado a fazer coisas que antes não fazia, só pra me agradar, as mulheres sabem exatamente quando o cara não é mais delas então elas ficam mansinhas e tentam fisgar o cara de volta de qualquer jeito. Esses dias cheguei em casa, tarde e bêbado, e lá estava uma amiga gostosa dela, Sandra, enfermeira num hospital qualquer, dividindo a nossa cama, elas estavam acordadas e me esperando. Foi uma festa e tanto.

Mas Marla era nada, isso não ia adiantar. Sabendo disso, eu decidi ser direto:

- Vai embora, eu não quero mais você aqui.

Ela estancou, me olhou com desconfiança, como se refletisse se era realmente eu ou algum serial killer havia me esfolado vivo e vestido minha pele, como se aquilo que eu tivesse dito fosse completamente impossível ou surreal. Marla realmente não entendia nada de porra nenhuma, ainda que fosse inteligente pra outras coisas, era uma criança de 6 meses quando o assunto era relacionamento homem/mulher.

Depois de alguns longos segundos ela finalmente se moveu, como se o tempo tivesse voltado a correr de maneira natural, e, sem mais nem mais, ela me perguntou amavelmente:

- Você quer seus ovos moles ou duros?

Aí foi a minha vez de ficar paralisado. Nossa vida já era surreal, mas aquilo eu realmente não esperava dela. Ela aparentemente amava qualquer discussão, interromper uma e aparentemente esquecer algo é o que Marla, e a maioria das mulheres, jamais faria a não ser que algo estivesse muito errado.

Durante toda a semana Marla foi um doce. Me buscava cerveja na geladeira, não enchia o saco quando eu queria ver o jogo, liberava-me para sair com meus amigos, não ficava me esperando quando eu chegava tarde, mas acordava quando eu deitava na cama e imediatamente procurava meu pau, pedia para dar o cu no meio de uma foda e engolia tudo sem aquela cara bizarra de quem acaba de virar de uma vez só um copo de café gelado esperando que fosse um copo de coca-cola. Até raspou toda a virilha em vez de deixar aquele triângulo de pêlos que eu sempre reclamei.

Minha vida estava bem boa até.

Na sexta-feira à noite, prometi a Marla chegar cedo para que fossemos ao cinema. Como tinha esquecido minha chave, bati a campainha. Quem atendeu foi Sandra, aquela morena gostosa amiga dela, vestia um conjunto de lingerie preto, cinta-liga e espartilho, me puxou pra dentro e me beijou. Agarrei forte a bunda dela e senti uma terceira mão passando por mim e me prensando por trás. Olhei e era Marla, também vestida sensualmente. Marla derrubou na minha boca uma taça inteira de sabe-se lá que vinho branco, mas tinha uma textura bem espessa, mas não era muito longo, isso também não fazia tanta diferença. Marla serviu Sandra na boca também, depois fomos pra cama, derrubando um tranqüilo flamingo que repousava no meio do caminho como ornamento.


Capítulo II
Ressaca mortal - alguém bate à porta


Sede.

Muita sede.

Abri os olhos e senti o peso da luz nos meus olhos recém acordados como se eu equilibrasse um parque de diversões, com todas aquelas carrocinhas de algodão doce e rodas gigante, sobre a cabeça. Estava pelado, envolvido em lençóis bem conhecidos, porém com uma mulher loira de farmácia, não muito bonita é verdade, mas tinha um belo par de peitos. Desconhecida, mas peituda, ponto. Nem precisava ser detetive pra adivinhar: a clássica bebedeira dos perdidos no mundo que acabam tentando se encontrar nos braços das drogas, álcool e o primeiro par de pernas com um buraco no meio (ou par de peitões). Tudo isso temperado especialmente com o não raro acepipe da falta de memória total. É, não me lembro de nada.

Porém, logo notei que também não era necessário ser detetive para notar que a desconhecida nua ao meu lado aparentemente tinha recebido uma facada bem aplicada nas costas e não estava mais respirando. Esse é o tipo de coisa que nunca tinha acontecido comigo. Quando a gente brocha é difícil saber o que dizer, mas quando você acorda com uma pessoa que tem uma faca nas costas, a coisa parece ser bem mais complicada.

- Tô fodido.

Me levantei de um salto logo que percebi o dano na moça. Ela tava gelada e dura pra caralho. Já não tinha o melhor dos cheiros também. Vasculhei o apartamento pra ver se achava uma carteira ou coisa assim.

Nada.

Andei pra lá e pra cá no apê, cuidando para desviar do flamingo caído no chão e para não pisar forte demais. Os vizinhos não são tolerantes sábado de manhã. Espera. Já é de tarde. Ai meu Deus. O que eu fiz ontem?

- MARLA! SANDRA! Claro, eu estava com elas. Onde elas estão?

A campainha tocou, como é de costume das campainhas, sem qualquer aviso prévio. Fiquei estático, se alguém pudesse me ver, certamente se depararia com uma cena engraçadamente trágica: olhos arregalados, cabelo desgrenhado, cara de quem foi atropelado por um caminhão depois de cair numa piscina de ácido e o saco balançando pra lá e pra cá. A campainha insistiu mais uma vez, desta vez com mais barulhos impacientes. Logo após quem estava na porta bateu forte à porta e disse:

- Polícia, abra a porta!

Era só essa que me faltava. Sem me ocorrer qualquer outro pensamento mais inteligente pela minha recém acordada cabeça, gritei: - só um minuto, estou me vestindo. Não seria muito inteligente esconder o cadáver, mas também não seria nenhuma prova de esperteza abrir a porta para um policial. Com o sujeito batendo à porta como se tentasse abrir os portões do inferno pelo lado de dentro e continuando seu discurso nervoso com frases de efeito como “abra, rápido, antes que derrubemos a porta” e “sr., esse é o último aviso”, me vesti rapidamente, joguei o lençol sobre a loira mórbida e abri a porta com uma cara de sono (encenada sem muito esforço pelo meu estado atual).


Capítulo III
amigo é para essas coisas - quem é vivo sempre aparece


Abri a porta e me deparei não com um policial, mas com Márcio, um desses amigos da Marla que faz questão de parecer embaraçoso para todo e qualquer namorado dela. Cobri a porta para não deixá-lo entrar. Ele exibia um sorriso zombeteiro no meio da cara e perguntou o que é que estava pegando, eu informei-lhe a coisa mais verdadeira que, na minha posição, qualquer um diria:

- Tô com uma mina aqui em casa, se manda, eu e a Marla acabamos. - Comecei a fechar a porta sem dar grande abertura para o diálogo, mas ele meteu o pé na porta, forçou e entrou. Ele riu e disse alguma coisa sobre a Marla, enquanto abria a geladeira e perguntava se podia pegar a última cerveja (o que ele obviamente não fez ele recuar e largar a latinha quando eu disse “não”). Eu estava apavorado demais pra entender qualquer uma das piadas sarcásticas do Márcio - que na maioria são pra ele mesmo de toda forma, às vezes eu tenho plena certeza que ele vive em um mundo paralelo, onde ele está constantemente participando de um reality show baseado em um stand up comedy. Eu até acho o cara legal, mas, sabe, acordar de ressaca com uma mulher morta na sua cama acaba com o humor de qualquer um.

Então eu comecei a empurrá-lo sem grande violência, mas com vontade de ferro, para fora, enquanto ele ia aceitando ser enxotado, mas não sem antes ir pegando tudo que tinha de comer no caminho. Abri a porta e lá estava Marla, procurando algo na bolsa.

- Ah, obrigado, amor, eu não estava achando a chave mesmo. - me disse ela, mirando depois o segundo ocupante da sala - ah, oi, Márcio.

Os dois trocaram piadinhas, como de costume, e Marla disse que estava querendo tomar um banho e coisa e tal. Eu puxei ela pelo pulso.

- Não, não, você não deve entrar aí.
- Ué, porque não? Eu preciso dum banho.
- Não, mas aí não, vamos no Sheraton.
- O quê?
- É, você toma banho no Sheraton.
- Vocês estão com umas vagabundas aqui? - aí a voz dela começava a soar ameaçadora.
- Bom, SIM. VÁ EMBORA. - quem pode me culpar? O que mais eu podia dizer?

Ela me deu um tapa e foi até o quarto, eu a puxei, Márcio me puxou pra protegê-la e de repente era todo mundo se puxando e empurrando como que em um jogo viking de rubgy misturado com ice hockey e muita vodca. Uma hora ou outra a porta acabou se abrindo e lá estava o peso morto da loira oxigenada que eu não sabia nem quem era, mas que sabia que me traria muitos problemas desde que acordei.

Marla puxou o lençol com força.

Aí, era questão de sentar e esperar os acontecimentos, não fiz propriamente isso, mas podemos considerar que desmaiar e cair está dentro dessa categoria.

Capítulo IV
Volta ao mundo - cumplicidade conjugal


Quando eu acordei, Marla e Márcio olhavam pra mim com apreensão. A essa altura explicar qualquer coisa seria loucura

- Como você come uma vagabunda na nossa cama e ainda enterra uma faca no lombo dela, seu idiota?
- Eu não sei. - obviamente recebi uns tapas por essa resposta sincera, tenho que ser mais inteligente. - espera, espera, é uma puta, ela é uma puta paga, porra! - e aí eu recebi mais uns tapas da furiosa Marla.

Márcio segurou um pouco a Marla e disse: - bom, é isso, temos que nos livrar do corpo então.
- É, isso, vamos enrolar no tapete. - Disse Marla.
- Tapete é clichê de Hollywood. - retrucou Márcio.
- Justamente por isso, o clichê é tão óbvio que ninguém vai pensar nisso. - Completou a minha querida mulher.

Enquanto eles jogavam pingue-pongue de opiniões sobre o que fazer com a noiva cadáver que estava na cama, fiquei estupefato com a frieza dos dois em decidir a situação pragmaticamente. Nunca tinha pensado sobre o que aconteceria quando fosse acusado de assassinato, porque esse é o tipo de coisa que não se pensa muito, mas certamente esperava loucuras mil, gente chamando a polícia, sirenes, fugas pela janela, comoção pública. Mas não, tudo que eu via era um par de pessoas resolvendo como tirar o corpo dali e dar um sumiço plus.

- Tá, mas alguém vai dar parte do desaparecimento e alguém pode ter visto o garanhão aqui trazendo ela. - Falou Márcio apontando pra mim, ainda me espantando com o pragmatismo com que encaravam a morte da loira.
- Não, ele não disse que é puta? Isso aí vão achar que foi morar na Alemanha com algum gringo que descobriu ela na rua. Já era. - Disse Marla - eu espero que tu tenha usado camisinha, seu inútil.

Eu não respondi nada, não acreditava que em meio a uma mulher morta na nossa cama a única coisa que ela conseguia pensar é se eu tinha usado camisinha.

- Ok, tapete - não sei quem falou, mas ambos se levantaram em direção ao objeto inanimado que pretendiam se livrar.
- Ei, marmota, vem ajudar a carregar sua bucetinha fria pro tapete - disse Marla.

Fiquei parado alguns segundos e me levantei, mecanicamente, e fui até o corpo. O Márcio pegou a loira pelas mãos. Aí foi só piloto automático, quando vi, eu estava com um tapete envolvendo um pedação de carne de gente no porta-malas do carro, que era guiado por Marla pra sabe-se lá onde.

Capítulo V
Volta à vida - fidelidade conjugal


Quase toda noite eu não conseguia dormir pensando no episódio. Não conseguia nem transar direito com a Marla. Parecia que aquela cama tinha cheiro de morte.

Peguei um cigarro dela e acendi no meio da noite. Marla acordou e me perguntou o que estava acontecendo. Me levantei, botei minhas calças, All Star e uma jaqueta e fui dar uma volta na rua.

Procurei um bar qualquer o mais rápido possível e entrei deixando o vento cortante e frio pra trás. Engraçado como a gente nunca nota esses bares esquisitos perto de casa até precisar. Talvez eles surjam quando a gente precise, talvez a gente corra tanto que acabe indo sempre nos mesmos lugares e não vendo o que está de baixo do nariz. O lugar era simpático, bem vazio, só tinha uns tiozãos e umas tiazonas conversando numa das mesas, um me chamou a atenção porque usava peruca - ou tinha o cabelo mais anos 80 que eu já vi nessa década.

Rolava um Bob Dylan, just like a woman, se não me engano, num jukebox largado no canto. O ambiente parecia meio nublado de fumaça, já que a porta estava fechada para que o frio não fizesse companhia. Sentei no bar e chamei uma dose dupla de uísque. O garçom me perguntou qual, mas eu só respondi “o mais barato”. O troço descia quadradão nos primeiros 2 goles, no terceiro começou a amaciar. No quarto copo era a reserva de família do próprio Jack Daniel.

O grupo de tiozões se levantou pra sair. Já era tarde e o garçom deixou ali perto a garrafa pra eu me servir enquanto ele dava uns retoques no chão. Eu era a última alma e o garçom puxou um papo qualquer sobre futebol, eu disse qualquer coisa engraçada, mas não dei muito continuidade. Ele sacou que eu queria ficar na minha, então ficou limpando o chão e eu bebendo.

Meu celular tocou e eu obviamente imaginei que era Marla enchendo e me pedindo pra voltar. Peguei o celular e atendi dizendo:

- Eu já vou, não enche.
- Assim que você atende às amigas, é? - Uma voz suave e conhecida respondeu simpática, não era Marla.
- Achei que era outra pessoa.
- Não é a Marla, aqui é a Sandra.
- Ah, oi, a Marla que te pediu pra ligar pra saber onde eu estou?
- Sim, ela me ligou pra isso. Tudo bem? Onde você está?
- Se tu me convidar pra tua casa, saberá onde estou. - o álcool faz maravilhas com a desenvoltura de um homem.
- Hm - ela refletiu um pouco - pode vir, traga bebida.

Capítulo VI
Cumplicidade engarrafada em 8 anos


Estava enrolado nos lençóis dramaticamente vermelhos da Sandra, refletia que quando Marla não estava junto ela usava menos as unhas. Tinha uma bunda nada mal, além disso era enfermeira, uma ótima fantasia e algo bastante útil se eu precisar de algum calmante tarja preta pra dormir. Estávamos deitados, meio silenciosos do pós-sexo, bebericando o red label que eu levei pra amaciar a carne. Não que precisasse, é verdade, ela já chegou agredindo e dois minutos depois ela estava sem sutiã.

Não sei quem disse que o uísque é o cachorro engarrafado. Concordo.

- Sabe, a morte ronda a minha vida. - eu disse olhando pro nada.
- Como assim?
- Acabo de transar com a amiga da mulher que mora comigo, posso acordar morto amanhã se você resolver contar alguma coisa.
- Não se preocupe, eu não vou contar nada pra ela. - ela riu e me abraçou. Eu adoro quando elas abraçam e se aconchegam no meu peito. Dei um apertinho na bunda dela com uma mãe e com a outra eu apertei ela mais no meu peito. Ela dava umas risadinhas, o uísque já tinha feito efeito na coitadinha.

- Sabe de uma coisa, Marla é uma filha da puta. - ela disse rindo.
- Eu sei, uma maluca.
- Não, você não está entendendo - subitamente ela ficou séria - ela armou pra ti.
- Como assim, ela me chifrou? O que tu sabe, heim?
- Ela armou pra ti, tu não matou ninguém.
Não respondi nada, fiquei só olhando pra ela, atônito.
- Você não lembra que nós três estávamos lá na noite anterior? A Marla te drogou, ela me pediu uns remedinhos e misturou na tua bebida. Tu apagou um dia inteiro.
- E a mulher? - Disse pegando o pulso dela e provavelmente esbugalhando os olhos.
- Era uma indigente, já tava morta, ninguém reclamou o corpo dela no necrotério. Eu fiz uma transferência fria pra faculdade, botamos na tua cama e enfiamos uma faca na mulher que já tava morta. Por acaso tu não percebeu que não tinha sangue?

Me levantei da cama e comecei a me vestir rápido. - E o que vocês ganham com isso, porra?
- Eu não ganho nada, mas a Marla ganha sua fidelidade. Se você tentar largar ela, ela vai te ameaçar. No fim, se você realmente quiser ir, ela vai pedir o seu apartamento.
- Filha da puta! Eu vou me ver com essa vadia agora mesmo! Eu mato ela!

Capítulo VII
Dia de visita


Era dia de visita na prisão. Já faziam uns 3 ou 4 anos que estava preso, não contava pra não me desanimar. Assassinato de uma mulher, ninguém acreditou que não era um crime passional. Matar a mulher depois de transar, dizem que acontece bastante. Isso que eu chamo de sexo ruim.

Mas, como todo mundo ali, era inocente.

Estava sentado numa mesa ao sol. Ela se sentou na minha frente e botou sobre a mesa uma cesta com algumas coisas de comer. Ela me disse:

- Como tu está?
- Preso.
- Bom, tu nunca devia ter feito aquilo.
- Tu sabe que eu não fiz nada. Por que tu insiste em vir aqui pisar sobre mim?
- Porque eu te amo, seu idiota.
- Estranha forma de amar, tu deveria estar no meu lugar, presa, comendo esse angu horrível.
- Se tu não tivesse comido a Sandra, não estava na cadeia.
- Se tu não tivesse matado ela, eu não estaria aqui, sua puta!
- Puta é a Sandra, eu sou sua mulher, meu bem. Ela tinha que morrer. Não tenho culpa que suas digitais, pentelhos e porra tavam espalhadas por todo lugar, quem iria acreditar que você não a matou? Aquela história de roubar um corpo do necrotério pra praticar necrofilia com a sua amante não ajudou também. Mas sossega, em breve você tá livre e volta para o nosso ninho de amor.
- Eu te odeio, Marla.
- Eu sei, mas eu sou a única coisa que sobrou na tua vida.