dezembro 06, 2005

Vegas

Se tu não me conhece também, e isso inclui me conhecer a algo em torno de 15 anos, é bem provável que, nessa minha solteirice inveterada, tu interprete meu comportamento como de um playboy rico e solteirão que leva la vida loca - o que não é de todo distante, a exceção da parte que diz “rico”. Mas o caso é que já fui casado e esta é a história do dia em que encontrei minha ex-mulher.

Estava eu na rua da Amargura e cruzei por esta mulher que me cumprimentou. Espremi os olhos por breve segundo e exprimi um “ah” mental em reconhecimento a doce e gentil lady que ali se encontrava a cumprimentar-me com tal elegância. Era minha ex-mulher. Retribui-lhe gentilmente um “oi, como vai?” auxiliado por um cordial sorriso, bastante forçado é verdade, mas creio que soou natural o suficiente para estas pessoas que não se encontram faz um par de anos (ou 7.5 pares de anos).

Conversamos todo tipo de amenidades, e eu, como cavalheiro que sou, a convidei para tomar um café num desses cafés que servem de tudo, até café. Ela aceitou sem grandes rodeios. Descobri na mesa redonda do café que ela se casara novamente faz algum tempo e tinha dois filhos. Muito fofos os pequenos rapazotes, 3 e 6 anos respectivamente em ordem inversa ao nascimento. Um deles muito parecido com a mãe. O outro provavelmente deve ter puxado o pai.

Aí ela perguntou-me como andavam meus filhos. Eu respondi-lhe:

- Eu não tenho filhos.

- Ah, sua esposa não quis ter filhos?

- Não, depois que me divorciei de ti nunca mais me casei.

- Mas tu ficou casado comigo só 6 horas. Aliás, nunca entendi por que tu se divorciou de mim tão rápido.

Foi então que puxei o fôlego das profundezas do pulmão e respondi:

- Porque eu percebi que não precisava do seu fôlego para respirar, eu não precisava das suas pernas para andar e que eu enxergava melhor sem as tuas lágrimas embaçando minha visão. Sabe, eu sou uma pessoa muito independente, acho que nunca vou me casar mesmo.

Ela refletiu por um momento e me fez a pergunta crucial que encerrava o ciclo:

- E não sente falta então?

Foi então que lhe respondi com o pesar dos anos nos meus ombros:

- Apenas na hora de ir ao cinema, apenas na hora de ir ao cinema...