julho 16, 2014

A Saga de Curitiba

Esse post se perdeu quando eu escondi o Hell'z Club (por vergonha do que estava escrito lá). Agora que estou mais velho, tenho menos vergonha das bobagens que fiz e dos maus escritos que digitei. Esse texto é de 2000 (ou antes, eu acho), era um gurizinho. Enjoy!

A Saga de Curitiba

Prefácio.

O bardo das letras que humildemente vos narra esta história participou dos eventos pré-Era de Aquarius de Curitiba. Tudo que se sucedeu depois da Saga de Curitiba mudou as vidas dos nossos heróis, vilões e até mesmo desconhecidos. A mais histórica aventura já contada de uma manada de patos sulistas nas bandas do Sul-Sudeste (porque Curitiba não é NEM A PAU parte do Sul) desde a super expedição a Pelotas no Fucão da Wyrm.

Capítulo 1: A Decisão.

Como já mencionado em narrativas passadas, Mateus "Teto", Maurício "Guri" (ou seria Guri "Maurício"?), Rafael "Cacetinho" e eu (Sérgio "Schüler") eram grandes amigos e jogares assíduos de RPG lá pelos idos de 1999/2000.

Então, certa vez, o Edufa, um dos diretores da House de Curitiba propôs um live (um jogo) NACIONAL em sua cidade. Um super evento nos mesmos moldes que já haviam ocorrido em São Paulo, Rio e também em Curitiba em algum passado distante. Megaeventos desses, com cerca de uma centena de alucinados por RPG, devem ser muito bem planejados e estruturados. Afinal, se uma centena de pessoas juntas já causam a maior quantidade de problemas improvavelmente absurdos, imagine os malucos RPGistas que são improváveis, absurdos e problemáticos em sua natureza. Com certeza isso exigiria muito esforço e planejamento ou então muita irresponsabilidade, resultando em perigo letal para qualquer morador, caminhoneiros e outros seres vivos dos arredores. Para o jogo, Edufa marcou a data em um feriadão, desses que caem na quinta e ninguém trabalha sexta. Obviamente eu ainda não trabalhava com propaganda, então teria o feriadão e, pasmem, sábado livre. Decidi ir, não sem arrastar alguém comigo para essa desgraça toda.

Teto e Rafa concordaram em ir, Guri queria, porém foi barrado por sua futura-ex-mulher, a ex-Guria. A comitiva estava incompleta, porém os três irmãos nada temeram. Embarcaram no ônibus mais barato e, conseqüentemente, mais baleado, fubango e desconhecido rumo a Curitiba. Doze horas de viagem os aguardavam, pelo menos em teoria.

Capítulo 2: A Viagem.

Na primeira hora dentro ônibus, falávamos muito, estávamos muito empolgados, apesar do sádico motorista ter decidido usar o enjoativo, rodopiante e penhascoso caminho da serra.

Começamos a nos distrair com as coisas que trouxemos: diversos embolachados e águas gasosas embebidos em todo tipo de químico conservante, odorizante e saborizante. E, claro, música de walkman, para aqueles que tinham a sorte de ter trazido pilhas para alimentar o comedor de energia. O que não era o meu caso. Percebi que minhas pilhas haviam acabado antes da primeira hora de viagem.

Depois de algumas horas, o Rafa disse que ia dormir, cabe aqui dizer que quando ele fala que vai dormir ela já dormiu. Pois tem um botão, não me pergunte onde, que se desliga da realidade mundana em menos de 1 minuto, na verdade é uma coisa meio contagem regressiva "5... 4... 3...". Certa vez estávamos conversando, eu e o Mateus, com ele quando de repente ele não respondeu nada, a não ser que um RONCO fosse a resposta. Havia dormido no meio de um intervalo de 2 minutos de uma conversa e outra. Bizarro.

Bom, ele dormiu, e eu, já sem pilhas, tinha consumido todas as bolachas que conseguia comer. Só me restava tentar dormir, já que o Mateus já estava aderindo ao movimento também.

Quase na metade do percurso, paramos. - Hora do rango - Pensei. Pensei errado, pois estávamos perdidos no meio do nada, em uma destas cidadezinhas sem nome, na porta de um MECÂNICO, o que me fez pensar alto:

- Ônibus têm bobina? Não sabia...

Todo mundo desceu do busão. Havia algo errado com os amortecedores ou coisa assim, felizmente a bobina estava intacta – ou era Bosh? - e o mecânico não parecia expedir nenhum tipo de VEREDITO. Eu, o Rafa e o Mateus decidimos explorar um pouco as redondezas. Descobrimos a uma quadra de distância um orelhão e um boteco dos mais chinelos.

Adentramos o recinto e a primeira coisa que percebi foram aqueles pastéis frios parados no balcão desde épocas imemoráveis, provavelmente antes mesmo de o atendente estar empregado ali, ou quem sabe antes mesmo do cara ter nascido.

Arriscamos, cada um, um misto-quente (putz, isso é uma torrada, pô!) e um refrigerante desses de garrafinhas de vidro. A esta altura outras pessoas do bus aventuravam-se pelas imediações do pequeno boteco sem nome, frustrados por causa da parada não prevista.

Depois de comer e telefonar pra casa, exploramos um pouquinho mais as redondezas, até perceber que não tinha nenhuma caipira tarada metida a Lolita ou Engraçadinha perdida por aí dando sopa.

Fomos até o mecânico e observamos aquela cena crássica: tiozão, com a bunda pra cima, consertando o ônibus com metade do FIOFÓ sujo de graxa aparecendo. Quase 1h depois o ônibus estava pronto (não se sabe sob qual ponto de vista, mas nós também não ousamos questionar) pra seguir viagem. E assim foi: mais algumas horas da incrível visão mato/poste de luz/penhasco mortal, até eu cair (essa não é uma palavra apropriada quando se fala em penhasco mortal) no sono novamente.

Capítulo 3: chegando ao Dr. Destino.

Acordei diversas vezes, mas logo depois dormia. Foi numa dessas acordadas/dormidas que vi que havíamos chegado em Curitiba, "pelo menos era o que dizia a placa verde que passamos há 10 minutos atrás", dizia eu. Porém só havia mato e ruralisses a nossa volta. Que estranho. Comecei a ficar angustiado, 20 minutos depois ainda nada de vestígios de civilização. 30 nada. 45 e finalmente algo que poderia lembrar um prédio. Chegamos na rodoviária de Curitiba, cerca de 14h, completamente sujos, suados, cansados, nojentos, maloqueiros e tudo mais, ou seja, no clima mais perfeito de uma rodoviária de capital, onde se encontra todo o tipo bizarro de gente vinda diretamente das barbas do lugar algum ou indo com muitas escalas rumo ao inferno mais longínquo já imaginado por um cartógrafo de Star Trek.

Fomos até o segundo andar da rodoviária, era onde ficavam as lojas e afins. Queríamos um pouco de comida e também um telefone público. Ligamos pra algum dos diretores e organizadores da House de Curitiba, nos descrevemos, pois nunca havíamos sido vistos um pelo outro e fomos comer algo na rodoviária.

Ao entrar em uma das "lancherias" encontramos alguns poucos corajosos "degustando" as "especiarias" rodovientas: o velho Xis Salada mofado com MUITO, mas MUITO demais pra caralho mesmo, milho.

Cada um fez o seu pedido, evitando obviamente a combinação venenosa de toda rodoviária: o "especial" ou "à moda da casa". JAMAIS, peça esse tipo de coisa em uma rodoviária, a não ser que esteja pensando em se matar de uma forma dantesca e emocionante, esvaindo todo o seu sangue, e sabe-se lá mais qual substâncias que DEVERIAM ser mantidas dentro do corpo, dramaticamente pela cavidade anal e cuspindo por entre os dentes todas as tripas do intestino grosso por dias a fio, não sem antes se submeter a rituais constrangedores como o do copinho com fezes, que vai parecer mais mousse de abacate, e a tão sádica lavagem gastro-intestinal. E, sinceramente, enfiar mangueiras esguichantes pra dentro do corpo via qualquer buraco me parece um pouco gay demais.

Comemos e fomos esperar o Edufa na frente de uma LOJA DE MÁGICAS que tinha na rodoviária, não sem antes fazer uma incursão emocionante pelo banheiro gratuito. Fico imaginando que tipo de pessoa vai até uma rodoviária para comprar objetos de mágica barata. Seriam mágicos de ônibus?

Esperamos por quase uma hora, quando de repente uma menina de uns 25 anos nos perguntou se éramos de Canoas. Imediatamente pensei "meu Deus, o Edufa é transformista!". Mas não era bem assim, esta era outra diretora de Curitiba, a Déia, uma pessoinha muito simpática, descobriríamos depois.

Juntamos nossas MUITAS e PESADAS malas e começamos a saga da exploração da dita "cidade modelo". Andamos mais de 20 minutos, completamente guenzos, até uma loja de RPG onde os hereges e errepegístas em geral costumavam comprar seus livros "sagrados". Mofamos lá, morrendo de vontade de tomar banho, por mais umas 2h, mas era preciso fazer a social, mesmo que nosso futum de gambá que acabou de brigar com uma dúzia de porcos selvagens no lixão de Cubatão não fosse muito "social".

A esta altura já estávamos descontraídos, já que além das pessoas novas, dentre eles, e principalmente elAS, curitibanos, paulistas, cariocas, VARGINENSES, SOTEROPOLITANOS e toda sorte de cidades com nome de remédio tarja preta, tinha também os, já conhecidos anteriormente, barrigas verdes de Floripa e os gaúchos de Pelotas e Rio Grande. Estávamos longe de casa, mas com pessoas o suficiente para promover o caos sulista.

Capítulo 4: o DCE de Dante

Finalmente decidiram nos "levar" até o nosso alojamento, onde poderíamos guardar nossas coisas em "segurança", tomar um bom banho quente (já que era inverno ou outono – sei lá) e descansar um pouco antes da função noturna. "Levar" está entre aspas porque fomos ANDANDO até lá, "segurança", bem, isto você descobre mais adiante. Mais uns 15min de andança, abarrotados de malas, nós, os patos sulistas, incluindo aí o pessoal de Rio Grande, Pelotas e Florianópolis, chegamos ao tão esperado abrigo, um DCE de uma universidade. Pelo estado precário do prédio, desconfio, de uma universidade pública.

A visão era aterradora. Um prédio velho, grafitado toscamente por pichadores provavelmente em estado avançado de mal de Parkinson e Vaca-louca, com os vidros quebrados e um elevador minúsculo, para umas duas pessoas, que dava MUITO medo.

Decidimos de comum acordo que subiríamos os três ou quatro andares de escada até chegar ao abrigo, um ou dois corajosos usaram o elevador, de qualquer forma era o máximo que cabia no elevador e eu não estava nem um pouco a fim de ficar preso em um prédio estranho, de uma faculdade estranha e, pra completar, em uma cidade tão estranha que parecia piada chamá-la de "modelo" para qualquer coisa boa.

Subimos os lances de escada observando o "ambiente" do prédio: portas semiderrubadas e quebradas, pedaços de vidro, sujeira, papel higiênico USADO e outros dejetos não identificados no chão, portas de compensado seguradas por maciças correntes fechadas por cadeados, enfim, era praticamente uma masmorra medieval, bem pitoresco para um bando de rpgistas, mas não parecia muito apropriado, mesmo pra nós.

Quando chegamos no lugar que dormiríamos, duvidei seriamente das boas intenções dos diretores de Curitiba e comecei a olhar pros lados esperando uma cilada vinda de algum lugar para pregar uma peça na gente. Não podia ser verdade. O chão do lugar era de concreto puro misturado a pequenas e pouco generosas doses de parquê, MUITO sujo. A porta, se é que podia ser chamado disso, era uma grade de correr, fechada por um cadeado chinfrim, desconfio, feito de chocolate. Os "colchões" eram espumas velhas e detonadas, muito piores do que aqueles colchonetes de viagem. As janelas ao menos tinham vidros, nem todos, mas a maioria e, obviamente, não tinha nenhuma cortina pra nos proteger do sol da manhã, que quando se vira a noite acordado não é nada bom para o humor. Pelo menos o meu.

Demoramos quase 15 minutos para acreditar que aquilo realmente era onde dormiríamos, se os proprietários, os ratos, baratas, morcegos e, possivelmente, DINOSSAUROS, permitissem. Depois de telefonemas de indignação e até uma sugestão de passar a noite na prisão, já que deveria ser menos insalubre que aquele lugar, decidimos aceitar a nossa sina e começar a LIMPAR o lugar. Claro que não fizemos milagres, apenas limpamos. Para o lugar ficar habitável precisaria de no mínimo uma retroescavadeira. Mas o mais inteligente seria demolir o prédio e construí-lo de novo.

Enquanto a galera limpava, eu decidi tomar um banho. Ninguém ainda havia provado esta experiência antes. Antes de entrar no banheiro observei um cartazete escrito exatamente assim:

“Cuidado! Não deixe o chuveiro tremer, senão ele explode. É sério”.

Chamei todo mundo pra olhar aquilo, não podia ser verdade. Bom, eu breve eu descobriria. Tentei desistir do banho convencendo os outros que tinha descendência francesa em algum antepassado bastardo da família Schüler, mas não colou. Não tinha mais jeito. Eu ia ter que ser o primeiro a utilizar o chuveiro. Com ou sem explosões.

Abri a porta do banheiro e me apavorei. Imagine um banheiro público no centro de São Paulo que acaba de sediar uma briga entre torcedores punks de futebol. Agora imagine uma coisa pior que isso e você tem a descrição da saleta que eu estava pra entrar. Primeiro, não havia sequer um lugar que não estivesse completamente sujo de materiais totalmente estranhos pra ciência moderna para largar as roupas e toalha. Eu estava sujo, mas aquilo era ridículo. Saí e arranjei, sei lá onde, uma sacola plástica pra colocar minhas coisas. Então foi isso, Estava lá peladão, apesar do FRIO CONGELANTE, com tudo balançando, e com os pés em cima do chinelo, já que o chão estava muito mais sujo que a calçada do Mercado Público. Fiquei parado por quase 5 minutos rezando para que, em caso de explosão, o chuveiro não me matasse ou quem sabe decepasse a minha cabeça. Qualquer uma delas.

Olhei para o chuveiro e me preocupei seriamente com a minha integridade física. Era a fiação elétrica mais enjambrada desde a época do McGyver. E o pior, eu não tinha garantia nenhuma que o sujeito que fez ela tinha a capacidade do McGyver, pra falar a verdade, duvidava muito que sequer soubesse o que é um curto-circuito na teoria, pois, na prática, devia ser expert.

Abri o chuveiro. A água fria "jorrava" em "generosas" gotículas d’água. O suficiente para encher menos de meio copo d’água em alguns bons 5 minutos catando os pingos que caíam. Bem, ao menos o chuveiro não estava tremendo. Mas também não estava esquentando. Comecei a me molhar a medida que meu queixo tremia e minha pele entrava em algum tipo de colapso congelante.

Tentei fazer o chuveiro esquentar.Quando ele começou a esboçar alguma reação de que PODIA esquentar um pouquinho, começou a tremer FEROZMENTE, dando um barulho terrível de *tum tum tum*. Desliguei imediatamente. Impossível descrever o quando o chuveiro tremia, era praticamente uma máquina de lavar ligada dentro da caçamba de um caminhão andando a 100 km/h em uma estrada com mais crateras que a Lua. Sacudia tanto que molhava toda a extensão do banheiro. Tentei de novo e de cara ele começou o seu tremelique desvairado.

Então era isso, eu tinha um cabelo cheio de xampu, um corpo congelado e QUASE molhado, um vento dos infernos que insistia em invadir a janela quebrada do banheiro dos infernos e um chuveiro que não esquentava a não ser que entrasse em combustão e explodisse nas minhas fuças. Eu estava bem arranjado mesmo. Liguei de novo tirei o xampu como dava, ensaboei as partes baixas e fim. "Chega de banho", como diria aquele mongol do filme.

Saí do banheiro com uma cara não muito satisfeita e adverti sobre o tremelique do chuveiro. Mas não disse nada sobre a água ser fria. O Mateus seria o próximo a descobrir o poder da água gelada no inverno.

Ele entra no banheiro e alguns segundos depois todos ouvimos um grito. Perguntei-me se o chuveiro havia explodido, mas não, ele *apenas* entrou com tudo na água sem ver que ela estava totalmente fria. He he.

Depois que todos havíamos passado pelo ritual de congelamento sanguíneo no chuveiro infernal e "limpado" o lugar para tornar-se QUASE habitável para um favelado. Era hora de começar a reclamar durante uma ou duas horas e começar a se arrumar pro que nos esperava à noite: o jogo.

Capítulo 5: Noite I: descobrindo o significado de TRÊS QUADRAS CURITIBANAS

No primeiro dia, ou melhor, noite, o primeiro jogo, de uma série de 3 noites de jogatina, seria em separado. Cada família, ou o que chamávamos de Clãs, reunir-se-ia em locais diferenciados, de acordo com a "personalidade" de cada família. Seria muito estranho punks em um restaurante chic ou engravatados de terno em um Xis na rodoviária. Bem, eu, desta vez, fazia parte da turma dos almofadinhas engravatados e chics do último. Aliás, era o chefe deles, o mais engomadinho de todos. Pena que minha personalidade, digamos explosiva, não combinava muito bem com essa função.

Todos nos vestimos com as roupas mais estranhas. Eu de sobretudo e gravata, o Rafa de mano de Niterói, acompanhado fielmente pelo Mateus no mesmo estilo, o Maurício Tremere estava como um DUENDE DOENTE VERDE DE DOIS METROS DE ALTURA, o Marcos de Joinville e a sua namorada, acho, estavam vestidos como artistas homossexuais novos-ricos da renascença, o Marcos de Floripa estava vestido de POMBA-GIRA COM CAPA VERMELHA E PANTUFAS DE TIGRE, o sujeito de VARGINHA estava de engomadinho e ia pro mesmo lugar que eu, o André estava vestido como astro gótico do pop punk poser rock, a Bárbara, namorada de um dos 500 Marcos presentes, estava de projeto de punk metida a gordinha sexy e se tinha mais alguém vestido de forma maluca, sinceramente não lembro. Um dos diretores não mencionados, Jimmy, nos disse que iríamos até o centro da cidade, segundo ele TRÊS QUADRAS (guarde essa palavra) dali, para depois nos dividirmos. Agora imagina esse grupo ímpar andando por uma CAPITAL MALUCA, à noite, dirigindo-se até o centro guiados por um sujeito de camiseta e CHAPÉU de feltro.

Saímos, usando obviamente as escadas, e deixando nossas coisas na "segurança" da grande porta de grades e do seu cadeado que devia ser sagrado para ser considerado seguro. Após MEIA HORA de andança, chegamos no centro e descobrimos finalmente o significado tênue, e aparentemente quântico, da palavra "três quadras" em Curitiba.

Nos dividimos e andamos, cada grupo, mais ou menos TRÊS QUADRAS CURITIBANAS até chegar ao nosso destino, no caso de nós engomados, um pequeno pub PORTUGUÊS em uma ruazinha meio morta. O lugar era simpático, nenhum The Cave, mas não tão ruim quanto o Xis do Gato e o DCE que nos abrigava.

Estávamos confinados no mezanino, lugar que a diretoria de Curitiba escolheu pros engomados, abaixo do mezanino jazia um PALCO e na frente do PALCO uma série de mesinhas de madeira apertadas em pouco espaço.

Subimos e, em uma união de mesas, começamos a reunião do Clã. Uns 15 negos de terno e gravata espremendo-se em um espaço de uns 3x6 metros, onde no centro repousava uma GRANDE mesa. Uns 10 minutos depois de começar a falação, um barulho ENSURDECEDOR começa a vir do PALCO. Uma gorda doida, vestida de algo parecido como "a tia gorda e bêbada do casamento", sentada em um banquinho e espancando um pandeiro, cantava sambas de antigamente, desferindo golpes de voz contra os pobres e embriagados clientes do pub PORTUGUÊS.

Não conseguimos mais ouvir uns aos outros, esse foi o tom da noite inteira, até umas três da manhã quando decidimos de comum acordo (?) que a reunião estava encerrada e nós havíamos nos entendido (?!). O que era uma grande balela, os caras apenas balançavam a cabeça enquanto uns falavam e na hora da resposta, que não tinha nada a ver com a pergunta, os outros que tinham de balançar. Ninguém ouvia nada, mas estávamos todos felizes depois que começou rolar uma cervejinha amiga – esse é o pretexto de quase todos os jogos de rpg em cidades distantes: beber umas e outras, andar fantasiado e tocar o horror longe de casa. Quase invadimos o palco, mas decidimos que era muito pequeno para 15.

Capítulo 6: reggae night

Saímos do pub bacalhau e andamos mais uns 30min, umas três quadras CURITIBANAS, até um barzinho apontado por um dos diretores da house de Curitiba. Todo mundo ia pra lá depois de seus respectivos jogos, isso se tivesse humor suficiente e chinelagem o bastante no sangue.

Enquanto andávamos pela rua dos barzinhos, toda capital tem pelo menos uma, vemos sair, de uma casa noturna vistosa, um boy carregado por seguranças. Ah, um típico exemplo de Pity-boy. Brigão, bêbado, rico e de pau fino.

Chegamos até o barzinho que procurávamos e invadimos o lugar. Era um reduto maconho-reggae-surfista de dois andares. Simpático. Música em volume médio, posters do Bob pendurados nas paredes, mesinhas vazias, boinas amarelas, vermelhas e verdes na cabeça dos malucos, fumaça com cheiro de ervas "medicinais" e cerveja relativamente gelada, o que também não era tão importante estando no inverno.

Causamos um pequeno desconforto ao chegar no local, afinal, uns quinze ou vinte sujeitos engravatados chegando em um lugar desses poderia muito bem significar o FBI ou sei lá o quê. Mas tudo ficou calmo quando nos aproximamos da mesa dos outros jogadores que já haviam invadido o local, vestidos de formas ainda mais estranhas, como já descrito anteriormente.

Bebemos e continuamos a beber enquanto outros doidos se aproximavam, vestidos cada vez mais estranhamente. Tiramos fotos. E lá pelas tantas eu estava com sono. Cabe dizer que eu com sono sou a pessoa MAIS anti-social, chata, murrinha, reclamona e resmungona, não que seja muito diferente de quando não estou com sono.

Comecei a resmungar e reclamar. Aos que perguntavam o que eu tinha, eu quase mordia. Dormi cerca de uma hora na mesa até que, finalmente, eles se enchessem de beber e rumassem pra casa. E lá vamos nós, mais três quadras Curitibanas que levam mais de meia hora pra serem percorridas por passadas rápidas gaúchas.

Capítulo 7: O primeiro dia passou

Voltamos pro DCE, subimos as escadas, cambaleando de sono, ou cerveja, e começamos a nos "aconchegar" nos inconfortáveis pedaços de esponja pura que alguém, em um remoto passado, havia chamado de colchão certa vez e, hoje, chamaria de "cama pro cachorro vira-lata". Sentia a irregularidade do chão nas minhas costas. Cobri-me até a cabeça com um cobertor, que havia trazido de casa, já que a falta de cortinas, o sono, o sol raiando, o "colchão" e o excesso de homens fedorentos e roncadores não compunha um bom ambiente para um tranqüilo e, depois de tantos contratempos, necessário sono.

Tive sonhos estranhos e psicodélicos. Provavelmente proporcionados pela extensa fauna de fungos, certamente alucinógenos, presentes no pedaço de esponja onde despejei meu corpo cansado. Era algo com bandas de rock e jogadores de RPG assassinos, não entendi, mas, descobriria depois, era uma premonição.

Fui acordado a chutes. Resmunguei. Todos estavam de pé. Assim seria pelo resto dos dias em Curitiba: eu seria sempre o último a acordar, aliás, a ser acordado. Quando todos já estavam melhores do mau humor, o meu tinha recém começado.
Fui avisado que íamos pro café da manhã. Ao menos avisaram, agradeceria depois.

Capítulo 8: Saco vazio não pára em pé

Andamos mais meia hora pra chegar no lugar onde tomaríamos café da manhã. Na frente do local já havia alguns malucos esperando para atacar com vontade voraz cada um dos itens. Não me lembro ao certo o que tinha pra comer, mas nós mandamos MUITO ver.

Parecíamos todos mendigos mortos de fome, o que, na realidade, não estava muito longe disso, já que tínhamos caras mal dormidas, mal humor, banho frio, roupas amassadas e, claro, toda a estranheza que qualquer rpgista carrega consigo, mesmo nos momentos mais normais (?) do cotidiano.

Lembro-me que havia um bolo de cenoura que degluti, sozinho, umas 5 fatias. Nós acabamos com o lugar, mas o pior de tudo foi o banheiro depois. Todo mundo, impelido pela sujeira extrema dos banheiros do DCE, em que nem as baratas e ratos tinham estômago suficiente para transitar, decidiu usar o banheiro do BANDEJÃO CAFÉ DA MANHÃ e para o tão conhecido NÚMERO 2 from outter space. Detalhe: havia 1 privada para mais de 20 pessoas com fortes dores intestinais. Fomos obrigados a organizar uma fila, que, enquanto a porta estava fechada, se espremia em cólicas fedorentas na altura do estômago e, quando a porta era aberta por um sujeito feliz e aliviado, respirava um ar pior que o de Cubatão, totalmente envenenado pelos piores e mais alienígenas cheiros de podridão fecal.

Após longa e quase infinita espera, finalmente chegou a minha vez, infelizmente, depois do Maurício Tremere, como já dito em outras histórias, um gordão de 2 metros de altura e beirando seus 200kg, - óh não - pensei. Adentrei o recinto fechado e o bafo de urubu suado era intenso. As paredes pareciam transpirar com o ar pesado e difícil de respirar. - É agora ou nunca - pensei.

Sentei no vaso sanitário, quente, e desferi diversas rajadas com minha metralhadora analógica. Temi pela saúde da fossa. Por sorte, ao menos comigo, não transbordou. Lavei as mãos, já quase sem oxigênio, e abri rapidamente a porta. - Ahhhhhhhh , ar novamente! Liberdade! Liberdade!

Capítulo 9: Turismo com Dante

Não contentes com tudo que já haviam feito a gente andar, os diretores Curitibanos, em especial a Déia, decidiram nos levar, a pé, pra dar uma PEQUENA volta pela cidade.
Vimos coisas TÃO interessantes, como um mercadinho idiota, que mais parecia a versão Moinhos de Vento do Brique da Redenção, vendendo inutilidades e artigos decorativos, principalmente pra crianças e um "monumento" babaca, que lembrava MUITO um simples retângulo liso na altura do saco, o que era sugestivo, ao centro da cidade ou à mãos ou algo assim que não me lembro ao certo e, claro, a primeira faculdade, não universidade, do Brasil.

Sinceramente, não lembro de ter visto nada de interessante, mas quando falaram em visitar a tal Ópera de Arame, quase que em coro, a cambada sulista, acabada, disse "não, nós vamos é pro DCE da wyrm", convencidos de que a Ópera valia a pena, mas não para nós, tristes andarilhos, patos que não sabiam voar. Principalmente depois do pessoal de Curitiba ter dito que a Ópera era LONGE, ou seja, MAIS longe do que as tradicionais TRÊS QUADRAS - logo ali - de meia hora - CURITIBANAS.

E fomos pro DCE. Não sem antes passar em um supermercado, de nome improvável, e comprar muitos pacotes de bisnaguinhas 7 Boys, uma faca, de ponta, e diversos tipos de acepipes pastosos, a.k.a. PATÊ.

Capítulo 10: Sexo, RPG e rock´n roll

Nós, os patos sulistas, jogávamos um RPG amigo, esparramados no chão, por sobre as esponjas, que um dia foram colchões, do DCE do inferno. Quando eu estava com mais de meia bisnaguinha com PATÊ enfiada na goela, apareceram, do nada, uns 3 ou 4 cabeludos vestidos de preto. Inicialmente achei tratar-se de um assalto ou algo assim, mas os caras entraram no DCE, passando pela grade, sem dizer nada e rumo a outra sala do DCE: a sala onde ficavam alguns instrumentos.

- Grunchquêmsã gucêsh? - eu tento falar com a boca cheia.
- É, quem são vocês? - algum dos meus solícitos colegas traduz.
- Somos da banda Fuck & Kill the Doomed Hell's Demon or Die in Bloody Pain.
- Olhem, rpgistas. - Deprecia um dos integrantes da banda.
Engulo o pão e digo: - Olhem, uma banda. - Devolvendo a depreciação.
- Vocês não vão tocar, vão? - Algum dos rpgistas, quer dizer, um de nós, reclama.
- Não, não, só viemos buscar os instrumentos. Temos um show hoje de noite. - Falou o terceiro cabeludo vestido de preto.
- Tá, mas, e se não tivesse ninguém aqui? Como vocês pegariam os instrumentos? - Um de nós retrucou.
- Nós temos a chave. - Falou um dos "músicos", dirigindo-se finalmente a sala onde estavam guardados os instrumentos.

Ficamos todos mudos por alguns segundos. Começamos a entender que nossas malas, cheias de pertences, estavam expostas à toda sorte de maluco que poderia nos roubar se não estivéssemos ali naquele instante, ou até mesmo à noite, quando estaríamos em mais um jogo. Meu Deus, nossa paciência não estava mais suportando tanta coisa.

Continuamos a jogar por mais uns 5 minutos, quando de repente a porta onde estava a banda se abre e um dos sujeitos diz:

- Poxa, não mexam nos instrumentos, né?
- Ninguém mexeu em nada. - Mentimos.

O sujeito voltou pra dentro e fechou a porta.

Dois ponto cinco segundos depois, ele sai, com uma CAMISINHA USADA na mão e diz:

- Pô, a noite foi boa, podiam ao menos colocar no lixo.

A única menina que dormiu naquele quarto, namorada do Marcos, fica vermelha, enquanto o sujeito volta pra toca.

Depois de 5 minutos de risadas, voltamos a jogar, quando, mais uma interrupção aconteceu. Mas desta vez ninguém abriu a porta, o que acontece é que a banda começou a TOCAR com todos os instrumentos PLUGADOS. Um de nós que estava com a faca, comprada no supermercado de nome improvável para cortar as bisnaguinhas e passar o PATÊ, segurou-a bem firme e disse:

- Vou matá-los agora mesmo.
- Não, não, espera aí. Depois vão dizer que somos rpgistas satânicos. Vou ali embaixo ligar pra algum diretor de Curitiba. - Eu disse, acalmando os ânimos, apesar da minha fúria.
- Boa idéia, chame alguém com uma faca melhor, porque esta não deve nem cortar os cabelos sujos deles. - Retrucou o sulista à beira de um ataque de nervos.

Desci e me lembrei que não estava de posse de nenhum cartão telefônico, por isso, liguei a cobrar pro Edufa.

- Alô, Edufa?
- Eu mesmo, quem fala?
- É o Sérgio, de Patópolis.
- Heim?
- Schüler, coordenador dos Ventrue.
- Ah, fala.
- Ahn, como direi? – perco a elegância e grito: - ROQUEIROS CABELUDOS ROUBARAM TODAS NOSSAS COISAS E NOS AMARRARAM COM AS CORDAS DA GUITARRA!
- MEU DEUS!
- Vem pra cá, nós precisamos trocar de “moradia”.
- Ok, ok, já tô chegando aí, vou chamar mais alguém de carro, fica calmo.

Finalmente tinha feito a primeira coisa esperta desde que comprei a passagem de ônibus pra Curitiba. Iríamos pra outro lugar e ainda por cima de carro. Ponto. Subi e esperei, observando, minutos depois, a banda levando seus instrumentos pra mais um estrondoso show.

Capítulo 11: a nova esperança da aliança rebelde

Quando ouvimos o barulho de escadas, nos posicionados, de posse das facas de patê e pistolas de brinquedo, de modo que lembrasse um movimento de uma tosca emboscada ninja. Nota-se aí que não perdiamos o senso de humor, nem nas horas mais impróprias, adversas e absurdas. Quando o Edufa colocou o primeiro pé na porta, já tínhamos pulado, gritando, para mostrar bem como estavam os ânimos do bando sulista. Podíamos, tranqüilamente, neste estado, planejar um atentado terrorista. E seria, com certeza, contra Curitiba.

Explicamos, desta vez, a realidade e o, maldito encolhido, Edufa ofereceu sua CASA para hospedar nosso bando. Exatamente o lugar onde já se encontravam todos os SUDESTANOS do Rio e São Paulo. Maldito cão curitibano Edufa.

Nos deslocamos até lá, desta vez e pela única vez, de carro. Um pouco apertados, é verdade, mas felizmente poupamos boas 3 quadras Curitibanas de andança. Ao chegar, percebemos que a casa não era nenhum palácio, mas, comparada ao DCE, era o próprio paraíso. Nos “aconchegaríamos” na sala, porém, desta vez, com COLCHÕES, o que era um verdadeiro progresso. Sem banda, sem ratos, sem chuveiro que explode.

Capítulo 12: momento de fé

Como o número de pessoas que congestionavam a casa, em especial o banheiro, do Edufa, alguns outros solícitos curitibanos resolveram nos oferecer suas dependências para que todos conseguissem tomar banho – antes do final do feriado. Uns 10 do nosso bando sulista foi até a casa da Fernanda, jogadora de Curitiba, sob a promessa de que os que ficaram com o Edufa nos esperariam para o jantar.

Ao descobrirmos que a Fernanda nos ofereceu um – o primeiro – chuveiro quente desde que chegamos, incluindo aí o direito de sentar em um sofá enquanto esperávamos, começamos a chamá-la, e assim foi até anos depois, de Santa Fernanda da Água Quente.

Após todos limpos e até de barba feita, voltamos pra casa do Edufa. Descobrimos que eles tinham saído para jantar, sem a gente, em uma pizzaria ali perto. Desconfiamos do “perto”, mas era, de fato, próximo ou então nós já estávamos nos acostumando as peregrinações, não sei ao certo.

Capítulo 13: saturday night fever

Com as pizzas ainda pesando no estômago, fomos nos preparar para a próxima rodada de jogos malucos, com todas aquelas fantasias e essa coisa toda, porém desta vez o ambiente era mais condizente com a histeria supersônica dos esquisitóides jogadores: era uma danceteria bastante tosca, com alguns tijolos a mostra, iluminação precária e aparelhagem duvidosa. Obviamente fechada para somente nós malucos, sabe como é, as pessoas costumam estranhar bastante um sujeito metido num pijama, com capa vermelha e pantufas de tigre no lugar que não é destinado a festa à fantasia. Mas o bar estaria funcionando, o que contribuiria bastante para melhorar as interpretações de personagens ou, melhor, afrouxar a nossa crítica e, principalmente, autocrítica.

Lembre-me que tudo ocorreu na normalidade, conceito quase abstrato para rpgistas, com exceção de algumas alterações causadas pelo excesso de substâncias alucinógenas e música repetitiva, da qual fui um pouco responsável. Dentre uma das alterações, um mané subiu no palco e começou um striptease VERDADEIRO. Após algumas risadas, percebi quem estava lá em cima, de cuecas e sem encolher a barriga, desconsiderando o senso do ridículo: era o Rafa, integrante da comitiva canoense.

Sim, ninguém mais poderia ser tão saliente e, por que não, corajoso como o Rafa. Depois reclamam da fama, propagada principalmente pelo Casseta e Planeta, sobre as preferências sexuais pouco ortodoxas dos gaúchos.

Inquirido sobre o assunto, o Rafa respondeu que o strip foi MARKETING. No momento não entendemos se foi positivo ou negativo, mas desconsideramos e fomos obrigados a ir embora, não pela gerência da casa, mas pelo pouco de consciência que ainda incidia em nossas mentes.

Capítulo 14: o bem vence o mal

Na próxima noite, a mesma coisa, 30 minutos de caminhada, já fardados como habitantes do hospício em uma festa à fantasia, chegamos no próximo local de jogo, o último por sinal. Era um prédio residencial, desses que tem piscina e um grande pátio/salão de festas no térreo.

Com a algazarra promovido normalmente, apesar de todos os organizadores implorarem silêncio, o que não faz muito sentido em uma espécie de teatro, um dos moradores do prédio resolveu jogar um balde d’água em alguém. Aí começou o terror, pessoas correram, gritaram, quebraram vazos e, creio, alguém caiu na piscina. O Rafa que havia sumido, apareceu todo despenteado ao lado de uma menina, igualmente despenteada e sem maquiagem, que era namorada de um dos sujeitos. Neste momento eu entendi que a propaganda funcionou.

Saímos do prédio, ainda na metade da noite, vagando em busca de outro lugar pra continuar o jogo. Paramos em uma praça pública, prontamente fomos repelidos por integrantes da polícia militar. Procuramos outra e simplesmente recontinuamos. Até que, finalmente, uma notícia boa:

Havia um antiqüíssimo desafeto gaúcho, morador de Florianópolis, um sujeitinho escroque e temeroso por diversas vezes da selvageria e terror gaudéria, o Hederson, era o único “sulista” – desconfio que tenha nascido em outro lugar que não o Sul – que estava passando bem desde o início: estava de carro, ficando num hotel e era amigo dos organizadores de Curitiba. Pois que recebemos a aguardada notícia de que ele havia BATIDO O CARRO.

O que se seguiu foi uma comemoração, com gritos e pulos, da comitiva sulista, incluindo aí aqueles de Florianópolis que haviam vindo de carona com o imprudente rapaz.

Então tudo parou, simplesmente sentamos e ficamos contando piadas, rindo da própria desgraça e rindo muito mais da desgraça alheia. Decidimos peregrinar pras nossas “camas”. No caminho, lembro-me que alguém olhou pro lado e disse:

- Bah, mas essa Déia tem uns peitões maiores que melancias geneticamente modificadas, tu não acha?
- É, ela é minha irmã.
- Com todo o respeito é claro. – calou-se o sulista que não abriu a boca pelo resto do trajeto.

Capítulo 15: hora de dar tchau

Acordo sob o açoite dos chutes de alguém, desconfio que era o Teto, que me diz que é hora de ir embora. Começamos a socar nossas coisas na mala, demos tchau a todo mundo, brincando, porém falando a verdade, de que tudo foi um inferno e jamais voltaríamos. Colocamos as pesadas bagagens nas costas e caminhamos rumo a rodoviária. Por sinal, bastante longe da casa do Edufa.

No caminho, olhamos pra cima, os habitantes dos fios de alta tensão nos observam, as pombas. Em um número elevadamente perigoso para nossas cabeças, elas, a medida que andamos, trocam de poste, nos seguindo. E assim foi durante umas 4 ou 5 quadras, quando decidimos sair correndo.

Chegamos na rodoviária, embarcamos no ônibus da mesma companhia e sem muitos percalços acordo já em Canoas, na famigerada praça do avião. Fim.