- Ah, que isso, Spooky, não me venha com essa que ele é FBI. – disse com désdem o jovem Willy Lenhador. Wily não era nenhum Tomé, mas era surpreendentemente cético para um guri de 8 anos que vivia em uma cidade do interior. Tinha o apelido de “Lenhador”não porque tivesse alguma conexão com o machado, mas sim porque era um tremendo de um futebolista e, quando no campo, diziam, “só sabia descer lenha” (seja lá o que isso significa).
- Claro que ele não é! Agora ele tá aposentado, mas ele era do FBI sim. – retrucou do alto dos seus 8 anos e meio, Spooky, que era curioso, observador e criativo, como todo bom menino criado no interior. Spooky, bom entendendor de como Willy Lenhador funcionava, continuou: - Se duvida então vamos lá e nós dois perguntamos pra ele.
- Essa eu quero ver, vamos mesmo!
- O último a chegar é um clone de padre!
E sairam correndo escada abaixo atrás do seu alvo.
Vovô estava sentado em uma cadeira de balanço de madeira pintada branca, estava na varanda de casa e admirava, entre um e outro suave balançar, o céu azul com um sorriso tranqüilo no rosto. O rosto sereno que só a paz da idade pode trazer logo se desfez ao ouvir a barulheira que seu neto, Spooky, e seu amiguinho Willy fizeram ao vir correndo de encontro a sua cadeira, esbaforidas.
Vovô riu alto e abraçou o neto, dizendo: - Por que esses dois aventureiros estão correndo? Estão perseguindo algum bandido?
- Vovô, vovô, não é verdade que você foi do FBI quando era mais novo?
- Ah, é, com distintivo e tudo.
- Palavra? Não é lorota de velho? Meu pai disse que o senhor é cheio de idéias malucas. – disse Willy Lenhador, frase que só poderia vir da inocência e honestidade de uma criança.
Vovô apertou com força a extremidade da banguela que segurava na mão direita - Há! Pois diga pro seu pai que eu tenho um monte de histórias porque já vivi e vi muita coisa, oras!
- Bom, e como o senhor decidiu sair do FBI?
- Decidiu? Ahn... deixemos isso pra lá, essas coisas da burocracia eu sei que meninos de 8 anos nao querem saber.
- Oito anos e meio! – retrucou Spooky.
Vovô sorriu. – Ah, perdão, oito anos e meio. Veja só isso, agora querem ser mais velhos. Já eu, na minha idade, gostaria é de ser novo de novo. Mas, tangiverso, sei que vocês são cavalheiros muito ocupados, porém, garanto que gostariam de saber do segredo.
- Um segredo? – Os dois meninos arregalaram os olhos de interesse.
- Não, não, eu não disse “um segredo”, eu disse “o segredo”. Mas sei que vocês estão ocupados correndo pra lá e pra cá, então não querem saber, certo? É a mais pura verdade...
- Queremos sim! – disse Willy, seguido por outra afirmativa de Spooky.
Vovô riu satisfeito na cadeira e fez força para inclinar-se em direção aos dois meninos, como se quisesse falar-lhes em particular, sem que ninguém ouvisse. Ele disse baixinho: - Mas vocês não podem contar a ninguém, heim?
- Nem pra vovó?
- Muito menos pra vovó! – O velho sacudiu-se na sua cadeira e olhou por sobre os ombros para certificar-se de que ela não estava por perto.
- Tá bom!
- Olha lá, palavra de escoteiro. Então vou contar-lhes o segredo. – disse vovô, botando cada menino sobre uma de suas pernas. – Em 2012, quando vocês nem eram nascidos, aconteceram diversas coisas muito interessantes que acabariam por mudar todo o mundo. Apenas, claro, se elas fossem públicas. Mas o que houve é que o governo escondeu esses fatos de todos nós. Porém, alguns de nós conseguiram acessar a verdade. Eu estava em busca de um E.B.E...
- Hebe? – interrompeu Willy Lenhador. – aquela anciã que se mantém viva no corpo de um andróide?
- Não! Eu não disse Hebe, eu disse E.B.E, ê-bê-ê, sigla para “entidade biológica extra-terrestre”.
- O que é esse negocio aí?
- Um alienígena!
- Óóó. – os dois meninos dispararam em uníssono.
- Pois então, lá estava eu procurando por um E.B.E., depois de diversos relatos de aparições de ovnis na mesma área, quando topei com essa super conspiração governamental, algo tão secreto que nem o Presidente tinha conhecimento...
- Hora dos biscoitos! – gritou de dentro de casa vovó, saindo pela porta carregando uma bandeja cheia de biscoitos quentinhos recém saídos do forno. Ao ver como vovô tinha os dois meninos calados e com olhos brilhando no colo, ela disse: - Opa! Não vai me dizer que está contando histórias de extra-terrestres pras crianças!
- Não, eu? Eu não, só estou aqui batendo um papo com meus camaradinhas. – disse vovô.
- Nem de chupa-cabra? Diabo de Jersey? O Projeto Lych?
- Não, nem sei o que é isso. Sou só um velho.
- Olha lá, estou de olho em você! Depois as crianças têm pesadelo à noite e eu é que tenho que ir lá acalmá-las. Crianças, vão brincar lá fora, tem um monte de árvores pra vocês subirem aí na volta. Vão, vão.
As crianças sairam correndo pra brincar, com as mãos carregadas e as bocas preenchidas de biscoitos.
- Isso crianças, vão brincar lá fora. Porque a verdade está lá fora. – sussurou vovô Fox Mulder, que disse para sua companheira, com a bandeja de biscoitos semi-vazia em mãos: - Scully, você adorava meu objeto voador não-identificado.
- É, Mulder, mas esse negócio aí além de bem identificado, já não levanta mais vôo há anos. – Ela sorriu ao alfinetar seu amor e voltou para dentro de casa.