- New York Times
"Uma crítica contundente à política do governo petista"
- Veja
"O brado da esquerda contemporânea contra a dieta imagética da burguesia"
- Guardian
"O outro lado da moeda"
- Economist
"O retrato do que o PSDB produziu como valores para este país"
- Carta Capital
"A queda da falácia estadunidense de que Free Willy não comeria o garoto"
- Le Monde
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Lúcio Casagrande era um pobre menino. Não estou dizendo apenas que era um pobre coitado, mas sim que era um coitado e além disso pobre. Mas o pior era que tinha uma cara feia de doer. Por conta disso, seus colegas de sala da 3ª série sempre viviam enchendo o saco dele de todas as formas possíveis e imagináveis, fazendo-o sentir-se o último dos seres humanos na Terra. Bem, talvez não o último, mas seu lugar na fila da humanidade deveria ser atrás de pelo menos uns 5 bilhões.
Como crianças são cruéis por natureza, Lúcio Casagrande era popularmente conhecido por seus coleguinhas como “Patinho Feio”, já que era o único branco da Escola Municipal Nossa Senhora da Santa Favela e era realmente bem feioso. Tinha os poucos dentes de leite que lhe apareciam na boca totalmente tortos, era meio zarolho e seu avô, diga-se de passagem um bêbado convicto, era quem lhe cortava os cabelos numa estranha mistura de MacGyver, Willian Wallace, Tonho da Lua e Tio Funéreo. Por causa disso, todo dia era “Patinho Feio” pra cá, “Patinho Feio” pra lá, “quack quack” e todos os afins e derivados.
Até a professora algumas vezes se enganava e soltava um “Patinho” ao chamar seu nome por qualquer motivo. Sempre depois que isso acontecia Patinho, quer dizer, Lúcio, pedia para ir ao banheiro e lá se esvaia em lágrimas até que a aula acabasse.
Obviamente o apelido acabou não se restringindo ao meio escolar, quando Lúcio ia soltar pipa em cima da laje com os outros moleques, todo mundo só chamava ele de “Patinho Feio”. Tal era sua sina que até quando gritavam seu nome à beira do barraco onde morava com toda sua família, nada se podia ouvir além de “Patinho Feio”. Ele fingia que não ouvia, mas seus pais, ciente do apelido, não perdoavam e avisavam o menino:
- Seus amigos estão chamando pra vadiar.
- Não ouvi.
- É, tão chamando “Patinho Feio”, vai lá brincar e deixa de encher o saco por aqui.
Ele suspirava fundo.
Anos depois, como um poderoso pressagio vindo do próprio Hans Christian Andersen, Lúcio deu a volta por cima. Pra falar a verdade, ele deu bem mais do que isso. Finalmente o apelido “Patinho Feio” caíra em desuso. Depois de vencer o concurso de beleza, Lúcio era apenas conhecido como Lúcia ou Cisne Arreganhado para os íntimos. Transformara-se, de "Patinho Feio" para "Miss Travesti 2008".
E só ficava muito puto quando lhe chamavam de marreca.