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Art retrata os judeus como ratos ("maus" em alemão), alemães como gatos, judeus como porcos, estadunidenses como cães, além de mostrar também suecos (alces), franceses (sapos), ciganos (mariposas?) e suíços (linces). Pode soar meio Orwell, e de fato soa, mas o caso é que Maus é um relato impressionante do horror que foi a 2a guerra para os judeus. Em uma passagem do livro, enquanto o próprio autor conversa com seu psicólogo, ele finalmente entende que seu pai não era um vencedor por ter vivido, pois aqueles que morreram não eram perdedores. Era aleatório, e isso era o mais aterrador. Qualquer um podia ter morrido, qualquer um podia ter sobrevivido - o único problema é que as chances de morrer eram catastroficamente superiores as de viver.
Outra coisa interessante é que o livro narra com uma quantidade riquíssima de detalhes, possível só utilizando como relato a memória de quem esteve lá, até o funcionamento dos campos de concentração, os subornos, quantos cigarros valiam um pão (3) ou uma garrafa de vodca (200), o mapa político durante a guerra, onde ficavam as cidades, como era a distribuição dos uniformes de prisioneiro, como era a escolha de quem vivia e quem morria, como escapara da morte por absoluta sorte algumas vezes e como chegara perigosamente perto também, enfim, narra o absurdo do holocausto em detalhes, sem perder o ritmo em nenhum momento.
Não me recordo de ter chorado lendo nenhum livro. Com Maus duas ou três vezes senti uma lágrima correndo. Não era o caso de chorar apenas pelo sofrimento daquelas pessoas, impossível de compreender mesmo com um relato tão próximo quanto do pai do autor, mas sim chorar de vergonha de que algum dia alguém tinha feito aquilo com outras pessoas. Certamente eu e tu poderíamos estar de um lado ou de outro, e isso é o mais assustador - o quão desumano pode-se chegar. E isso faz pouco mais de 60 anos.
Mas nem tudo são lágrimas, há momentos que chegam a ser cômicos, mesmo que um pouco trágicos, quando Art retrata a relação que tinha com seu pai, de como ele ia contando as histórias, da mesquinhez com o dinheiro e da cabeça-dura que todos temos como estereótipo do típico judeu de Nova Iorque.
Vale muito a pena. Eu recomendo que você leia agora mesmo. Compre Maus aqui.
Caso minha opinião não valha nada, saiba ao menos isso: foi o primeiro e único quadrinho a ganhar um Prêmio Pulitzer (deram o prêmio especial, porque não sabiam se enquadravam como ficção ou biografia).