abril 06, 2007

Hora feliz

- Tô dizendo, o Serguei é um personagem. Quer dizer, qualquer tiozão de mais de 70 anos que ainda tem fogo no rabo pra trepar com uma árvore só tem duas explicações: ou é um personagem exagerado do que já foi na juventude ou quando ele era pequeno caiu no caldeirão do Panoramix da Pfizer.

Flávio tragou seu cigarro, Fred levou o copo de cerveja à boca e eu fiz o mesmo depois de dar minha opinião sobre o tal Serguei. Todos sabíamos que a discussão era inútil. Em uma discussão de bar sobre coisas que não podem ser provadas ou desmentidas, cada bêbado traz no bolso sua credencial de bom entendedor do assunto, todos apresentam suas credenciais, mas ninguém consegue convencer ninguém de nada - afinal, crença é difícil de mudar e nenhum de nós era proficiente em pastor talk.

Ainda que devamos admitir, essa história do caldeirão do Panoramix da Pfizer seria uma boa versão pra coisa.

Estávamos os 3 em um bar muito estranho e descolado. Ficava no meio da Cidade Baixa, bem ali na Lima e Silva, mas ninguém o conseguia enxergar, só nós. Não que fosse magia ou algo afim com aquela história de só os inteligentes podem ver. Nada disso. O caso é que a fachada do bar é de uma locadora. Me escapa o nome agora, mas você olha de fora e é uma locadora, com filminhos e tudo mais que uma locadora pode ter. O troço é tão inner circle style que a porta é trancada e pra entrar tu tem que esperar o atendente abrir a porta da locadora. Mas não pára por aí, que isso. Quando você entra, não vê bar nenhum e, mais uma vez, nada isso tem a ver com magia. É que lá no fundo da locadora, entre a prateleira de infantis e a que divide a sessão de filmes de educação sexual, tem uma escadinha para o segundo andar. E lá, no segundo andar, é onde há um portal dimensional.

No segundo andar, some a luz da locadora, dando lugar a um ambiente escuro, refrigerado a exatos 17 graus, com muitas mesinhas redondas. Nas mesinhas há uma estrela e o nome de um diretor. Aliás, tudo no bar é temático de cinema, desde o cardápio até as luminárias feitas com fotos de capas de filmes. Nas paredes fotos de estrelas. Enfim, you got the point. E o melhor de tudo é que o negócio é completamente vazio.

- E esse bar, heim? Como tu descobriu? - Perguntei ao Flávio.

Não me lembrou ao certo o que ele respondeu, mas foi vago, mencionou uma espécie de rede de informações da cidade baixa composta por donos de bares, fiscais do IBAMA e mendigos ou algo assim. Não importava.

- Pois é, muito legal. Barzinho temático é o ouro. - Disse o Fred.
- Climatização é tudo. - Completou o Flávio, continuando o assunto cinema: - Por falar em filme, Hollywood é a mais fodedora do mundo em marketing. Os caras mascararam até propaganda do Piratas do Caribe 2 nessas figurinhas de cigarro. Já viram?

Fred e eu duvidamos, ele puxou sua carteira de Lucky Strke branco, jogando no meio da mesa. - Davy Jones, olha aí. É o Davy Jones. Com os tentáculos e tudo, dá pra ver até os olhinhos.



Ficamos espantados com a semelhança.

- Pô, o cara que tem câncer na laringe parece o Keith Richards. - eu disse.
- Que está no Piratas do Caribe 3. - Flávio completou.



- Caralho. Hollywood é foda.
- Por isso eu só fumo Lucky Strike.