abril 25, 2007

Cenoura

Há um bocado de coisas que me arrependo da adolescência, mas creio que as coisas tinham que ser assim. Quando se era um na minha época existiam duas opções: ser meio hippie ou meio punk. Digo “meio” porque só os xiitas eram inteiros - e extremistas são sempre chatos, não importando quanto ácido ou roupas rasgadas têm. Eu fui um caso mais grave, pois fui meio hippie e meio punk, o que me rendeu o acesso a uma rede de pessoas muito esquisitas.

Uma delas foi Cenoura.

Cenoura era alta e magricela e tinha cabelo ruivo, pintados de laranja, desta forma era fácil para eu imaginar de onde vinha seu apelido. Ela era uma tremenda duma riponga, usava sempre umas saias coloridas compridas, blusas no mesmo estilo, brincos enormes, sandálias rasteiras e toda essa coisa hippie adolescente de quando se acha que salvará o mundo tocando violão e bebendo vinho numa praça. Grandes revolucionários éramos. Como era um pouco mais hippie que eu, Cenoura aos poucos ia abdicando do bom e velho churrasco até que abandonou totalmente o consumo de carnes. Aquilo era realmente deprimente, porque Cenoura tentava me convencer a não comer aquele bifão delícia e suculento. Um dia ela até apareceu com uma camiseta escrita “meat is murder”, mas simplesmente abandonou a campanha quando eu apareci com uma paródia onde dizia “killing is murder”.

Era até bonitinho quando saíamos ambos de mãos dadas usando essas camisetas.

Apesar de ser vegetariana hippie style, esse negócio de amor livre não era com Cenoura, pra meu desespero devo dizer. Tive que trabalhar bastante na conquista dela. Muita maconha tive que investir e muito beiço tive que gastar beijando-a antes do cobiçado vai-e-vem da piroca ensandecida.

O que me intrigava deveras ao transar com Cenoura era que não chupava. De. Modo. Algum. Dizia-me nesta entonação resoluta. Relevei, afinal, era guria nova, ainda tinha tabus a quebrar, frescuras a abandonar e pregas a perder. O sexo também não era lá grande coisa, preciso confessar. Tenho a impressão que a CARNE realmente não era o forte desta vegetariana de estômago e coração. Mas eu a amava e estava disposto a ensiná-la os requebres mais rocambolescos do mundo sexual. Tudo era questão de tempo.

Certa feita cheguei na casa dela, como tinha a chave, fui logo entrando - sabia que os pais de Cenoura estavam trabalhando, de modo que era meu horário preferido para visitas íntimas, if you know what I mean. Abri a porta do quarto dela e vi o que até hoje me corta o coração e me escorre uma lágrima (apenas uma) pela bochecha direita (nunca a esquerda). Cenoura estava com a saia levantada, sem calcinha. Não, ela não estava com outro homem, nem tampouco com outra mulher (esta última opção na verdade seria bastante interessante). Agradeço por ela também não estar com nenhum cachorro ou qualquer coisa assim. Não, meus amigos, ela absolutamente não estava com homem ou animal.

Ela estava usando uma c-e-n-o-u-r-a. CENOURA.

*Suspiro*, finalmente entendi o apelido. Até hoje não como cenouras (e assemelhados fálicos) por conta desta história. Não que eu as culpe de alguma coisa, pobres cenouras, mas vai saber que diabos pensa a cozinheira do lugar?