fevereiro 08, 2007

Los Mexican Mariachi Maravilha: episódio 1 (L MMM:1)



Na terra seca em meio ao deserto adornado por um cactos aqui e um urubu ali, quatro jovens figuras podiam ser divisadas no horizonte andando em direção ao sol poente. A pressa já havia se esvaído deles, distantes da cidade e alheios ao mundo, apenas caminhavam em seu ritmo para aventuras inenarráveis em destinos muito improváveis.

Esta é a história de como tudo isso começou.

A Lenda de Herbertz Gonzales

- Vamo lá, Dê Jota, chama na xinxa aí pro camaradinha.
- Vá embora, guri!
- Ora, seu índio de uma figa, me dá logo isso!
- Você não entende nada, seu cabeça oca.
- Não entendo porque não experimentei, sou índio também, posso agüentar.
- Mescalito não aceita essa bobagem! Você é tão índio quanto eu sou jovem.
- Até que você está conservadão.

E o índio bateu a porta na cara dele.

Herbertz Gonzales havia caminhado quilômetros e agora o índio velho e pelancudo vinha com essa história de não fornecer o bagulho, que pachorra! Seus amigos da vila de San Juan El Paso del Pasa Cinco Dividido Cuatro y Medio, todos eles, em especial Manu Fernandez, tinham dito maravilhas do velho Don Juan: um índio velho e senil que se auto-proclamava feiticeiro, mas, apesar de toda essa droga vudu de pajé indígena, o que era realmente maravilhoso nele é que tinha um grande conhecimento de todos os segredos das plantas mais naturais e maluconas que a natureza já concebeu: San Pedro, Salvia Divinorum, Argyreia Nervosa, Amanita Muscaria, Ayahuasca, Datura, Ipomoea, Voacanga africana e mais um monte de outros troços que deixavam o cidadão doidão do coco, mas totalmente legalaize, como bom cidadão mexicano.

Gonzales tinha 1,80, já fora mais magro, mas não era considerado gordo, tinha os cabelos curtos, muito pretos e revoltados de tal modo que dizia serem “vivos como os da medusa”. Os amigos diziam que o cabelo regia seu humor, quando estava muito desgrenhado era melhor não chegar perto. Mas em geral era um sujeito simpático e galanteador com as mulheres, ainda que alternasse como a lua e de repente se livrava de todas elas pra se enfurnar em leituras de autores obscuros. Um dos traços marcantes de Herbertz Gonzales estava nas suas irretocáveis suíças, que cultiva com orgulho não deixando que ninguém as tocasse. Gostava de usar jeans, all star e camisetas engraçadas, geralmente vermelhas ou amarelas, mas podia ser que era só o que tinha disponível no seu armário. Ninguém sabia realmente e ele não fazia questão de esclarecer nada sobre si mesmo. “Falava pouco porque pensava muito”, dizia, ainda que muita gente dissesse que “falava pouco e escutava menos ainda”.

O único problema é que agora que Herbertz Gonzales estava frente a frente com a porta fechada de Don Juan, este não parecia nada disposto a colaborar com o jovem desconhecido que aparecera na frente da sua casa cantando “ai ai ai ai, ta chegando a hora, me vê uma mescalina, meu bem, que eu tenho que ir embora”. Don Juan não era muito alto e era bastante magro, sua pele avermelhada denunciava a quilômetros sua descendência índia, se bem que suas vestes não tinham nada de extravagantes: nada de penas, cocares ou qualquer coisa do gênero, usava calça jeans e camisa xadrez, semi-aberta. O único acessório que o traia era um colar em volta do pescoço adornado com um dente canino. Dizia-se inclusive que o colar era mágico e que o dente tinha sido extraído de um espírito da floresta. Gonzales não dava a mínima pra nada disso, pra ele era só um dente de gato num colar, coisa meio Crocodilo Dundee. Queria apenas a droga da chapadeira, de modo que esperou por um tempo na frente da porta fechada e recomeçou a bater nela.

- Ei, Dê Jota, qual é?

Nenhuma resposta.

- Ok, seu velho idiota, maricas, viadinho, corno manso, bicha, maconheiro, puta paga, vou tirar teu pinto fora...

Não ouviu sequer um movimento dentro da casa de Don Juan.

- Ei? Você tá legal, velhote? - disse hesitante.

Silêncio.

Foi aí que Gonzales decidiu meter o pé na porta, arrombando-a com facilidade. Ao entrar na casa de Don Juan, viu o velho índio caído no chão. Como tinha acompanhado a série Plantão Médico enquanto namorava uma pequena muito caseira do Arizona, arriscou checar a respiração de Don Juan. Estava sem respiração. Aproximou-se da boca do índio, que fedia a alho, recuou. - Maldito, filho da puta, você me paga por isso. - e se atracou nos lábios de Don Juan, fazendo respiração boca a boca. Depois dos mais longos segundos, Don Juan começou a tossir. Rapidamente Gonzales levantou-se e começou a cuspir e esfregar a boca, enojado.

- Você me salvou, filho! - disse índio, ainda no chão, olhando para Herbertz.
- É, me deve 20 centavos.
- E mesmo depois de eu lhe bater a porta. Como fui tolo, é você! É você!
- Sim, sou eu, Herbertz Gonzales, o grande...
- Não, seu tolo, nem você mesmo sabe... será possível?
- É, nem eu acredito que encostei nessa boca horrível.
- Ora, cale-se um pouco e escute, Nagal! - gritou Don Juan olhando-o nos olhos, fazendo a alma de Gonzales gelar e todos seus músculos se contrair. Continuou, agora mais sereno, Don Juan: - você é o jovem aprendiz que Papacuyamu, o Epaminondas, me prometeu. Era só isso que esperava para morrer, passar meu legado adiante.
- Que história é essa?
- Você será meu aprendiz.
- Vai rolar um cacto San Pedro?
- Lógico.
- Tô nessa.

Aí Don Juan virou-se de costas, como se tivesse procurando algo. Achou, exclamando um pequeno “a-há” de prazer. Virou-se para Gonzales e falou muito tranqüilamente:

- Bom, eu poderia passar meses, anos, décadas até, te ensinando os segredos de como conversar com espíritos, manipular os tentáculos da realidade, etc e tal. O caso é que eu estou morrendo agora, daqui uns minutos, então só vou poder te dar as ferramentas básicas e você vai ter que garimpar sua entrada no nebuloso mundo nababesco da magia.

Gonzales não disse nada.

- Pronto? Aí vai. - Don Juan tirou seu colar por cima da cabeça com uma das mãos e o botou em volta do pescoço de Herbertz Gonzales, depois estendeu na sua outra mão um vidro com uma mistura nada amistosa. - Coma isso aí.
- Pirou? Eu não vou comer esse negócio não.
- Vai te deixar alto.
- Opa, passa pra cá. - Gonzales pegou o vidro da mão dele, abriu a tampa de rosca e mandar ver no gute-gute.

A mistura era viscosa e tinha gosto de sapato velho com bosta de besouro, mas Herbertz não arregou. Quando bebeu a última gota cambaleou e quase vomitou. Abriu os olhos e viu Don Juan dizendo pra ele:

- Calma, calma, é assim mesmo. O Mescalito tem que te aceitar, vai ser uma boa briga. Bom, agora vou morrer, tchau.

E ao dizer isso Don Juan caiu estatelado no chão, morto.

Logo Gonzales estava deitado na grama, olhando pro céu verde que se liquefazia. Viu os fios do poste que passavam por sobre ele. Sentiu que podia tocá-los. Esticou apenas uma das mãos e com o dedo médio tocou o fio do poste, que emitiu o som da corda de uma guitarra. Ergueu a outra mão e começou a tirar a maior sonzeira do poste. Aí percebeu que podia fazer a mesma coisa, mas sem as mãos, apenas com o poder da mente. Tocou a maior melodia de todos os tempos, um si bemol puxado pra lá de Bagdá e coisa e parará.

A melodia finalmente atraiu Mescalito.

Era hora do grande desafio. Mescalito não dava segunda chance para quem o chamava tão despreparado. O guri era corajoso, mas Mescalito não era condescendente. Coragem geralmente era só loucura ou puro desconhecimento. De repente Herbertz entendeu tudo, desde a teoria das supercordas até porque as melancias eram ovais. Estava pronto para o que viesse, sem que nada desse.

- Então, guri, o que é que você quer? - Disse Mescalito.
- Não sou um guri, sou um feiticeiro.
Mescalito riu-se. - Então, grande feiticeiro, vamos decidir isso jogando o jogo mais antigo.
- Par ou ímpar?
- Não.
- Pedra, papel e tesoura?
- Não.
- Pit Fighter?
- Não, esse é o segundo mais velho. O primeiro jogo é o jogo do “eu sou”.

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Calça desbotada e suja, barba por fazer, camiseta mancha de molho de chilli. Este era Herbertz Gonzales sentado no chão, à beira da praça Maldivas, junto de uns hippies sujos que faziam artesanato. Gonzales não fazia artesanato, odiava aquilo, afora seu querido colar de dente canino de felino. Ficava junto com a comunidade hippie porque trocava com eles seu conhecimento de plantas alucinógenas, especialmente cogumelos, por comida. Às vezes também fazia uns bicos como cartomante com seu baralho cigano, mas não era lá muito convincente. Na verdade havia se tornado um maldito vagabundo que aplicava o velho truque de prever o futuro por umas moedas. Arrancava uma boa quantia, principalmente dos sujeitos que saiam do cassino que ficava ali perto: supersticiosos do caralho, quando tinham uma maré de azar corriam para ele para pegarem poções da sorte e todo tipo de chinelagem. Gonzales as fazia com competência, de modo que tinha uma freguesia certa.

O chato era ficar ali na praça esperando os tais fregueses.

Até que viu um típico jogador azarado cruzando a praça - estava de terno e gravata, esta meio aberta e totalmente desalinhada, as cores não combinavam muito também, andava cabisbaixo e errático, de modo que Gonzales se levantou de um salto e pensou “opa, mau jogador é bom cliente”.

Era Carlito “Delito” Marón. Estava sem um centavo, é verdade, mas era um tremendo vencedor da última vez que esteve no cassino.


A Lenda de Carlito “Delito” Marón

Carlito Marón era um habitué da Quarta da Tequila & Jogatina do Santa Madre Cassino, o maior e mais falcatrua cassino das bandas do sul do norte do México. A noite Tequila & Jogatina era basicamente assim: você jogava suas fichas em qualquer jogo, se ganhasse, além da grana, tomava totalmente grátis um shot de tequila extra añejo.

Bom, o caso é que se você perdesse, além do dinheiro, também ganhava o shot de tequila (mas uma blanca, não extra añejo).

E com essa técnica o Santa Madre conseguia deixar todos os jogadores completamente piradões da tequila e jogarem como se fossem os Mike Tysons das mesas de feltro verde. Nas primeiras execuções houve alguns porblemas, todo mundo saiu vomitando as mesas e desmaiando, mas aí foi que a gerente do cassino, a Madre Superiora, teve a brilhante idéia de instalar em cada mesa um vasilhame de balas com, no lugar de balas, centenas de embalagens individuais de Engov. Mas o que mais se gabava a Madre Gerente era sua idéia de ter instalado tubulações por todo o cassino. Por estas tubulações corriam oxigênio puro vindo da rua, que ela acionava toda vez que os jogadores pareciam cansados. Com uma boa injeção de oxigênio no ambiente todos ficavam feito baratas tontas, apostando em tudo quanto era jogo, alguns em mais de um ao mesmo tempo.

Esse era o caso de Carlito Marón.

Carlito quando freqüentava o Santa Madre Cassino se vestia no seu estilo mais elegante: terno branco, camisa vermelha de seda, e uma mal colocada gravata laranja com uma estampa de uma loira fazendo topless. Na verdade não era brega nem nada, cuidava bastante da aparência, mas acontece que um velho índio que se disse descendente dos Maias lhe tinha dito que aquela era a gravata da sorte de Night Rider, o maior apostador que já se viu, vendendo-a (com desconto de 99%) por uma centena de dólares. E ele jamais a esquecia a maldita gravata quando ia ao cassino. No início da noite usava-a no bolso, mas logo que ficava bebunzaite plus chamava ela pra fora e a colocava de qualquer jeito em volta do pescoço, enquanto sacudia os dados numa mão e segurava cartas em outra.

Aquela noite em particular trouxe uma maré de sorte absurda para Carlito, que ele obviamente atribuía a grande gravata da sorte de Night Rider. Fizera uma aposta arriscadíssima correndo pra lá e pra cá entre as sessões de bacará, black jack e pôquer. Chegou correndo na mesa de bacará e apostou no ponto, correu pro black jack e pediu mais uma carta e fez um “all in” no pôquer, apostando toda suas fichas naquela mão. O resultado não poderia ser mais surpreendente: ganhou nas 3. Marón embolsou cerca de 10 mil dólares em fichas, 3 mil em dinheiro e 90 mil em maconha. Era um homem rico.

A Madre Superiora, que passeava pelos corredores apinhados do Santa Madre Cassino, observou os fiscais das mesas que lhe fizeram sinais para dizer que o jogo era limpo, que não havia trapaceado e que aquilo era incrível. A gerente não se preocupou, dentro do seu hábito de freira sabia que Carlito Marón voltaria e perderia tudo novamente, se não hoje, na próxima quarta. Cuidaria disso pessoalmente. Ela aproximou-se de Marón, que saltitava, e disse:

- Parece que temos um sortudo, heim?

Ele continuou pulando, a gravata da loira de topless batendo ocasionalmente no rosto da freira.

- Terá mais sorte hoje mesmo...

Marón fazia uma dancinha em estilo egípcio.

- ... escolha qualquer garota daqui, é por minha conta.

Carlito parou como se tivesse sido congelado. Se há um troço melhor do que dinheiro é mulher. Se um troço melhor do que mulher é mulher do Santa Madre cassino. Se um troço melhor do que mulher do Santa Madre é mulher do Santa Madre grátis. As diabinhas, como eram chamadas as mulheres lindas contratadas para circular no cassino, recebiam fichas para serem “playmates” dos granfinos que ali jogavam. Pagavam a elas drinks, algumas apostas e tinham o direito de terem elas ao seu lado no jogo para lhes dar sorte, perfumar o ambiente e dar um escorregues de mão amiga pela coxa delas “sem querer”. A maioria delas não eram propriamente prostitutas, mas todas elas tinham seu preço e sabiam que tinham de ter, ou seriam despedidas caso um granfino se visse recusado. A Madre Superiora, uma verdadeira mente iluminada no mundo da gestão de cassinos, foi a primeira a implantar o sistema de cassino-hotel. Dava aos grandes jogadores quarto, comida e mulheres de graça, não importava, eles perdiam tudo no cassino de toda forma e o lucro era em dobro porque eles estavam relaxados. “Eles gastam o dinheiro onde dormem e fodem”, dizia ela. Não é a toa que o único cassino que se manteve de pé na cidade foi o Santa Madre.

Carlito não se fez de rogado e puxou pelo braço a primeira diabinha que lhe cruzou à frente. Era Darlene, uma pequena ruiva, seios grandes e cintura fina, que estava vestida apenas com uma calcinha de coura preta e botas longas também pretas. Já estava num estadinho deplorável graças às sucessivas tequilas, mas não queria perder a chance. Puxou a diabinha pelo braço e, justamente por não ter mais nenhuma noção, acabou saindo pelo cassino no lugar de ir em direção aos quartos do hotel.

- E aí, pequena, vamos dar aquele tirambaço no carretel?
- Só se rolar um ilícito antes.
- EU NÃO FAÇO FIO TERRA, PORRA!
- Não, não é isso.
- Não curto também a merdofagia.
- Não, só quero um pozinho pra corrigir as imperfeições do nariz.
- Ah.
- Pega lá?
- Ah, ok, hathsadioujhfse... - disse, dando um fade out na sua voz.

Saiu em busca de uma bucha para dar uma embuchada na Darlene. Como queria logo partir pros finalmentes, foi no primeiro centro de entretenimento adulto que tinha notícias, lá pelas bandas da taverna Macacos do Mundo. Empreendeu rápida negociação com os empreendedores noturnos. Foi andando até o carro, pensando já no que faria, quando de repente um sujeito vestido de Hunter Thompson [rip], camisa floreada, chapéu de pescador e óculos Ambervision cor de caramelo, interpelou-lhe puxando o colóquio:

- Hey, Fredo!
- Ahm?
- Tu não é o Fredo? Alfredo?
- Não, sou o Carlito.
- TÊJE PRESO, MELIANTE!
- Mas ahn ali meliante espingarda milho em espiga hagakure.
- Não tem nem a nem b, meliante, tu tá CONTRIBUINDES com o TRÁFEGO de DORGAS.
- Assim hassur melancolia espinafre.
- É melhor chamar um ADEVOGADO, porque, pelo jeito, tu vai precisar-lhe, meliante.

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Seis dias depois Carlito saiu da cadeia, apesar do pouco tempo de cana, saiu de lá com uma tatuagem horrível, azul e com traços grossos, de uma índia no braço e o apelido de Carlito Delito. A polícia mexicana não é das mais honestas do mundo, de modo que sua fortuna adquirida no cassino foi utilizada quase toda para que os policiais o liberassem da cadeia, sobrando apenas 2 mil dólares - que um sujeito que se dizia advogado lhe tomou antes de desaparecer. Saiu da cadeia e 5 minutos depois não sabia o que fazer, como pagaria suas contas? Caminhava sem rumo pela rua, todo errado, sem saber o que fazer agora que era um homem cuja sorte havia virado tão rápido que mal podia ver qual foi a mão que lhe deu azar.

- Ei, hombre! - ouviu Carlito, sem fazer nada diferente de continuar andando como se fosse um zumbi.

- Ei, hombre, é você mesmo. - ouviu de novo o arrasado Marón, parando de caminhar apenas quando alguém parou à frente dele. Ergueu seus olhos que estavam cabisbaixos desde que saira da prisão.

- Sim? - Disse Carlito.

O sujeito era Herbertz Gonzales, mas Carlito ainda não sabia disso, nem tão pouco Herbertz sabia que o potencial cliente era Carlito.

- Sou Herbertz Gonzales, o grande feiticeiro indígena.

Agora Carlito sabia quem Herbertz era.

- Sou Carlito Marón.

Agora Herbertz sabia quem Carlito era.

- Ei, essa não é a gravata de Johnny Cash? - perguntou Herbertz.
- Não, essa aqui é a de Night Rider, o maior apostador que já se viu.
- Isso, isso, claro, Night Rider, o maior apostador que já se viu, lóóógico... - disse o matreiro rapaz, que vendia há tempos artigos ridículos encontrados no brechó para os jogadores do cassino que queriam sorte. - bem, a gravata não lhe trouxe muita sorte, heim?
- Ao contrário, ganhei rios de dinheiro.
- Mas prevejo que perdeste tudo, heim? - disse Herbertz fazendo gestos com as mãos como se estivesse soltando um feitiço ou estivesse com uma tremenda constipação.
- Que nada, soube parar na hora exata para não perder.
- ENTÃO QUE DIABOS FAZ AÍ TODO TRISTE, HOMBRE?
- A polícia me prendeu por causa de uma pequena que queria cocaína.
- Ah, sorte no jogo, azar no amor... - Herbertz parou um segundo e o examinou, precisava tirar mais uma grana dali e a leitura fria tinha que ser rápida. - Então, que tal o grandioso anel grandão de Melissa Bizantes, heim? - fuçou em seus bolsos até encontrar um desses mini-CDs. - Aqui está, o grandioso anel grandão de Melissa Bizantes. Terás todas as mulheres do mundo num piscar de olhos, Melissa era a maior prostituta que já se viu.
- Não obrigado.
- Que tal então o chapéu de Delaware Kid? Traz felicidade.
- Não.
- Poção de invisibilidade?
- Nah.
- E esse autógrafo do Chapolim Colorado?
- Não, não, tenho dois, estou justando para trocar por um do Mickey Mouse.

Gonzales não se deu por satisfeito e resolveu apelar para seu truque mais infalível:

- Ora, mas é lógcio, como não percebi antes! - disse, batendo levemente com sua mão espalmada contra o meio do rosto. - É claro.

Carlito pareceu intrigado: - lógico o quê?

- Claro que você não quer nada que estou lhe vendendo, você está morto!
- QUÊ? - Arregalou os olhos Carlito Delito Marón.
- Sim, sim, está tudo muito claro, você morreu, amizade. A polícia te matou.
- No duro?
- Claro, se não como você está fora da cadeia.
- Subornei a polícia.
- Isso são coisas da sua mente para te enganar, você morreu e não sabe.
- E agora? Sou imortal?
- Não, não, você só ludibria o diabo por cerca de meia-hora. Quando ele perceber vai vir correndo para levar sua alma pras profundezas.

Carlito arregalou os olhos e saiu correndo. Herbertz saiu atrás dele a toda gritando:

- Hei, hombre! Não se desespere! Eu posso ajudá-lo... - mas o veloz Marón, que praticava esportes regularmente, não por saúde, mas por estética, não ouviu porque já havia entrada no primeiro saloon que encontrou. Entrou gritando:

- Rápido, garçom, me traga seu melhor whisky, esse seu amigo aqui só tem mais meia hora até que diabo descubra que morri e venha me levar embora! - logo sentou-se espalhafatosamente na mesa e num FRENESI etílico começou a virar no bico a garrafa de uísque que o garçom trouxera. - Desculpe garçom pela pressa, mas eu não tenho outra saída, eis todo meu dinheiro, traga-me tudo em bebida. O pouco tempo que me resta, que seja bem aproveitado. Não faço questão de festa, mas quero estar embriagado.

Uma figura sem fôlego(não era gordo, mas não estava nada em forma) logo se divisou na entrada do saloon, era Gonzales que abriu a porta de sopetão e escaneava com a vista o interior para achar seu cliente. Não foi difícil achar o sujeito que estava com 4 garrafas de uísque ao mesmo tempo na boca.

- Hei, hombre, espere! - aproximou-se Herbertz de Carlito.
- Hm? - "disse” sem tirar a boca da garrafa e viraros olhos em direção ao que lhe dirigia a fala.
- Não se desespere, Carlito. Posso salvar-lhe dessa, tenho o celular do diabo.
- Sério? - Parando de beber, mas ainda com a garrafa na mão e apenas os olhos virados para Gonzales.
- Claro, hombre, sou um feiticeiro, brujo, como dizem.
- Ah, corta essa.
- Sério. Fui eu quem construi as estátuas da Ilha de Natal.
- Nunca ouvi falar nessas, só nas de Páscoa.
- São pequenas perto das minhas, amigo Carlito.
- Puxa... - disse surpreso. - então, como eu faço?
- Precisa de dinheiro. Não pra mim, para os espíritos, claro.
- Então ferrou, porque nada eu levo da vida, o que eu tenho é o que há no meu carro.
- Não pode nem pedir emprestado?
- Meus vinte melhores amigos estão num maço de cigarros... - pareceu resignar-se - adeus, meu bom amigo. Adeus e muito obrigado, espero beber contigo no bar que há lá do outro lado.
- Espera, espera, espera. Tem outro jeito.
- Ah, qual é?
- Bebendo junto com um amigo.
- Mas já lhe disse que não tenho, só meus cigarros.
- Você acaba de me chamar de “meu bom amigo”, sou seu amigo. Vamos lá.

E beberam pelo menos 20 garrafas de uísque, até que o garçom decidiu dar uma conferida no dinheiro.

- Ei, vocês tem dinheiro? - falou o garçom.
- Ele tem. - Ao mesmo tempo apontou Carlito para Herbertz e Herbertz para Carlito.
- Mas como você pede tudo isso sem ter dinheiro! - Gritou Herbertz para Carlito.
- Ora, eu ia morrer mesmo. Não se leva dívidas pro inferno.

Só deu tempo de Herbertz puxar Carlito pelo braço para desviar do tiro de escopeta que veio na direção deles. Correram cambaleando e derrubando tudo até a porta no melhor estilo Chapolim. Ao chegar na rua encontraram dois cavalos amarrados.

- Rápido, vamos pegar os cavalos pra fugir. - Disse Herbertz, mas quando pegou na corda, outro sujeito apressado estava tentando também desamarrá-la.

- Hey, Dieguito, rápido, vamos pegar os cavalos pra fugir. - Era Johnny Bigú falando para Dieguito “El Coyote” Guacamole, ao que parece, ambos também roubando os cavalos para fugir.


A Lenda de Johnny Bigú

Daniel Smith era um californiano diferente. Não era saradão, pelo contrário, tinha uma respeitável barriga de bacon e cerveja, odiava qualquer tipo de esporte e não gostava de sol, preferia a noite. Mas uma coisa ele tinha em comum com toda a juventude da sua época: era chegadíssimo num cigarrinho de artista - mesmo que nunca tivesse visitado Hollywood. Foi quando completou a maioridade que decidiu dar o pé. Seu pai o atormentava para que conseguisse um emprego ou fosse para o exército. Como achava muito lindo morrer pela pátria, preferia dar esse honra aos outros, de modo que não se alistou no exército.

- Então tu vai trabalhar, guri!
- Vou, claro.
- Com o quê?
- Importação e exportação!

Seus pais festejaram a escolha, sem dúvida o ramo dos negócios internacionais deixaria seu filho rico. Podiam sentir que o garoto tinha potencial, afinal, estava sempre vendendo alguma coisa do seu quarto para arranjar dinheiro para não sei o quê. Finalmente cortaria aqueles longos cabelos que cultivara desde sempre. Seus pais estavam tão exultantes que festejaram com carneiros, coelhos, vacas, javalis, frangos, jacarés, cobras, ursos, anchovas, orangotangos, rinocerontes, minhocas (by McDonnald’s), porcos, ornitorrincos, cangurus, coalas, zebras, araras, bichos-preguiça, etc.

Para sua surpresa, antes da sua viagem inaugural, o filho do casal Smith não cortou os cabelos. Acontece que Daniel esqueceu de mencionar o que exatamente iria exportar e importar - que no caso fazia toda diferença, porque era maconha, haxixe, LSD e chili diretamente do Mexico. Preparou tudo certinho, fez um passaporte falso. Na falta de um nome mais apropriado, escolheu “John Bartolomeu Goode” (ou “Johnny B. Goode” como se apresentava) para estampar o falso passaporte, só pra tirar uma onda com as autoridades.

Já no México, Daniel, ou melhor, Johnny, para achar fornecedores de ilícitos de confiança, foi direto perguntar pra Máfia Cubana, que se encontrava no Arriba Cocobongo! o clube de salsa e merengue mais disputado do México.

O comandante do esquema todo era Esteban Vihaio. Johnny foi revistado pelo segurança na frente de Esteban, que pediu desculpas a Johnny pela rudeza do segurança. Obviamente não viria matar um pobre velho de 80 anos que passa o dia todo sentado no Arriba Cocobongo!, o clube que abrira em sociedade há 60 anos, ainda que o sócio hoje descanse em paz. Esteban tinha por volta de 80 anos e aparentava a idade que tinha, ainda que não demonstrasse nenhum sinal de senilidade, falava bastante devagar e com mesura, mais por ser um sujeito paciente do que propriamente um velho caco. Na verdade gostava de fazer o tipo mestre Yoda, calmo, paciente, sábio e enigmático, não precisava se exaltar mais como os jovens, não tinha mais o que provar pras fêmeas, não as cortejava mais, a dança da testosterona tinha chegado ao fim e ele realmente não via necessidade de comportar-se como um jovenzinho explosivo, ainda que não se importasse com esses tipos - afinal, isso emprestava-lhe um ar ainda mais sábio. “Um dia eles aprenderiam, entenderiam tudo e se acalmariam”. Esteban muito confortavelmente sentado em sua poltrona de palha trançada, parecendo um desses velhos reis do mambo em seu terno marfim, disse logo após uma breve tragada no seu cigarro que jazia na ponta de uma piteira:

- Então, o que procura, meu amigo americano?
- O de sempre.
- Perdão, Johnny?
- O mesmo de sempre.
- Mas nós nunca fizemos negócios.
- Ah, é... é que eu sempre quis dizer isso no mundo dos business de negócio.
- Entendo... então? O que vai ser? Armas? As ogivas nucleares dos russos estão em promoção essa semana.
- Não, não, não. Essas coisas fazem muito barulho, quero é droga.
- Aaaaaah, como não. Perdão, você disse que o seu nome era Johnny Bigode? Por acasotirou recentemente seu bigode?
- Não, “Bigode” não “bigood”
- Ah, “Bigú”?
- Hm... isso aí, Johnny Bigú. - ele disse, pra não contrariar o velhote.
- Então, sr. Bigú?
- Procuro drogas, especialmente o cigarrinho do chifrudo.
- Bom, eu não as vendo, mas posso intermediar um amigo de um amigo que vende, se é que me entende.
- Claro, mas tem que ser confiável.
- Ah, não há ninguém mais confiável em todo o México.
- Opa, que maravilha, então, onde eu acho esse sujeito?
- Fácil, procure a polícia.
- Heim?
- Se quer droga de qualidade e com segurança, procure a polícia, eles ficarão felizes em ajudá-lo por uma pequena quantia de dinheiro.
- Dinheiro não é problema, time is money, oh yeah.
- Inclusive ouvi dizer que eles apreenderam cerca de 90 mil em maconha com um coitado que foi preso saindo do cassino, devem estar liquidando a mercadoria pela metade do preço.
- Hey man, eu adoro o México. - Disse Johnny B. Goode abrindo os braços, maravilhado.

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Com cabelo desgrenhado num “auto-dreadlock” devido a sujeita, Bigú jazia sentado sobre uma pilha de blocos feitos de maconha, como se fossem uma tora de árvore que estivesse servido ocasionalmente como banco. Estava sem camisa e a calça jeans tinha cortado numa espécie de kilt improvisado. Johnny admirou-se tanto com o México, suas beldades portentosas e, acima de tudo, a maconha almost for free e praticamente legalaize, que decidiu não correr o risco de ficar importando e exportando drogas. Com seu mais novo negócio fechado, decidiu consumir todo o estoque, de modo que vivia como hippie num rancho onde um fazendeiro rico criava gado. Dormia numa barraca improvisada feita com uma toalha, fumava o dia inteira e comia umas frutas das árvores. O único problema que havia era com o pessoal que trabalhava no local, parece que o dono da fazenda não queria ele ali e estavam dando uma de terrorismo pra cima dele. Mas Bigú não levava esses mexicanos a sério. Certamente estavam só fazendo um terror psicológico bobo.

Quem ousaria matar um americano tão gente boa como ele?

Jogava paciência e bebia uma garrafa de uísque que tinha negociado com um mascate que passara por ali, quando de repente ouviu um tiro que acertou bem no tronco da árvore em que ele estava repousando à sombra.

Era Dieguito “El Coyote” Guacamole, ainda que não fosse possível reconhecê-lo por ocasião de estar vestindo um grande capuz negro, portando uma espingarda e que vinha a toda na direção de Johnny.

A lenda de Dieguito “El Coyote” Guacamole

Perdeu o emprego e a mulher por um amor, o amor pela birita. Dieguito Guacamole vivia ancorado no balcão do seu bar preferido, o El Coyote, primeiro porque achava a mulher chata, depois porque a mulher havia divorciado-se dele, depois porque não agüentava o emprego, depois porque o emprego já não o agüentava e acabou demitido, de modo que um dos donos do El Coyote, um sujeito que tinha a maior cara de Robert De Niro, acabou oferecendo-lhe um emprego como segurança do lugar. Não que Dieguito assegurasse alguma coisa, mas pelo menos era um jeito do dono reaver a fortuna que deslizava fiado pela goela de Dieguito Guacamole.

Dieguito não era muito alto, tinha cabelos lisos e bem escuros. Sua cara variava de inexpressivamente séria até o sorriso de superioridade, como se fosse o único a saber que o rei estava nu, sempre acompanhado de um bigodinho ralo, mais ao estilo colombiano que mexicano, e algumas vezes um cavanhaque também. Como sempre, estava escorado no El Coyote tomando seu uísque com gelo e olhando as pequenas passarem pra lá e pra cá. Apesar de ser altamente freqüentado por tipos como ele, o barzinho era uma espécie de hype mexicano, de modo que a nata do mainstream underground passava por ali, exibindo suas tatuagens de dragão e camisetas com piadas como “Não sou monstro. Prazer, Dr. Jekyll”, “Moby Dick you rule, My Dick you suck”, “Bundismo é uma merda” e “Houston, we have a mental problem”. Foi aí que Robert De Niro Cover interpelou o manguaçado Dieguito:

- Dieguito?
- Claro, pode encher até a boca...
- Não, não é isso, preciso falar com você.
- Diga, Cover.
- Sabe, você bebe pra caralho.
- É. - e sorriu, orgulhoso.
- De modo que terei de cortar-lhe o crédito.
- Má como?
- Seu trabalho como segurança é uma merda e você bebe bem mais do que o salário que eu pago pros outros seguranças. Mas há um modo...
- Eu não dou a bunda a não.
- Não, não é isso. Na verdade, você que vai foder a galera...
- Opa!
- ...com uma faca. - E sorriu malevolamente. - Tá a fim de ser um assassino de aluguel?
- Posso beber quanto eu quiser?
- Pode.
- Tô nessa.
- Então siga-me.

Dieguito passou para trás do balcão do bar, seguindo Robert De Niro Cover pela cozinha. Na cozinha, Cover empurrou levemente um dos candelabros fixados na parede. Para surpresa de Dieguito, o candelabro se moveu e uma parede falsa se deslocou, dando lugar a uma longa escadaria feita de pedras. Continuou seguindo De Niro escada abaixo, até chegar numa espécie de adega, toda revestida de pedra. A temperatura lá embaixo era bastante agradável, bem mais fria do que no calorento e sufocante bar. Robert De Niro dei meia volta sobre seus calcanhares de uma maneira um tanto teatral e começou a falar, de maneira mais teatral ainda:

- Bem-vindo a Irmandade do Coyote, Dieguito Guacamole.
- Esses barris estão mesmo cheios de vinho?
- Esqueça isso por agora, agora que você é um dos nossos, posso chamá-lo de irmão.
- Me arranja um vinho aí, mamãe.
- ORA, CALE-SE!
- Tá, tá, que saco, Cover.
- Não, irmão, aqui você me chama de O UIVADOR.
- Uivador, que papo é esse, ô De Niro? - disse Dieguito, meio que se rindo.
- Ouça bem, irmão, pois agora você ouvirá a mais negra história, ela não é fácil, nem bonita, mas é a história como ela é. A Irmandade do Coyote é uma organização não-governamental de assassinos que remonta a época dos Maias. Quando uma pessoa rezava para o grande Deus Coyote, o assassino da noite, um dos nossos irmãos se deslocava na direção de quem requeria o assassinato. Nós lhe dávamos o sangue que queria derramar e ele nós dava dinheiro, de modo que assim prosperamos nas sombras do mundo. Reis e Imperadores em todo o mundo já sentiram o hálito quente da nossa mordida fatal, tudo na mais perfeita escuridão. Vocês assassinos são chamados de A MANDÍBULA, e você, meu amigo, é o CANINO, o fatal canino que entrega o sangue da vítima ao nosso grande deus coyote.
- Posso ser o molar?
- QUEIRA PRESTAR ATENÇÃO, HOMEM. Eu que lhes passo a informação das mortes, sou, portanto, o UIVADOR.
- Certo.
- Aqui está sua faca ritual e seu capuz negro.
- Faca? O que ouve com o bom e velho três-oitão?
- Armas selvagens, nós da Irmandade do Coyote temos classe.
- E esse capuz preto esquenta muito no sol.
- É por isso que agimos na calada da noite.
- Escuta, amigo, no México ninguém usa preto...
- Quer o emprego ou não quer?
- Poderei mesmo beber quanto quiser?
- Sim.
- Ta bom.
- Bom, seu primeiro assassinato ocorrerá na fazenda do velho doido Willy. Há um sem terra ou coisa assim que ele quer eliminar. Vá!
- Mas a fazenda é longe.
- Pegue o Alazão do Inferno, ele está no estábulo do El Coyote, é todo negro e incrivelmente veloz.
- Certo. Só isso?
- Tem mais uma coisa.
- O quê, De Niro Cov...quer dizer, grande UIVADOR.
- Quando você estiver sob contrato, não mostre seu rosto ao contratante, nem revele seu nome. Você será apenas El Coyote, o espírito do Coyote assassino.
- Por quê?
- Ora, pare de reclamar e pedir explicações, mate logo o sujeito e suma daqui.

Dieguito vestiu o capuz, levemente incômodo, e que lhe dava um ar soturno à noite, mas completamente idiota durante o dia. Achou o tal cavalo negro e o montou. Quando estava saindo, um sujeito disse a ele:

- Belo cavalo.
- É.
- Quer vender?
- Troco por essas duas garrafas de uísque que você tem aí.
- Feito.

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Avistara o hippie gordo, mirara na pança, mas acertara apenas o tronco da árvore. - Droga - pensou - não estou bêbado o suficiente, preciso calibrar mais minha mira. Dieguito aproximou-se mais com passadas largos (porque nunca ninguém em toda história da literatura se aproximou com passadas curtas ou estreitas). Ao passo que ia se aproximando, ainda mirando, Guacamole disparou verbalmente de dentro do seu capuz negro contra o hippie:

- Foi muita coragem ter aparecido aqui, de certo a nossa língua não entende muito bem. Sempre que dissermos "saia" é pra sair, mas se quiser ficar, pois bem: A discussão é natural em qualquer desentendimento e tudo é só questão de opinião. Exatamente como eu estava lhe dizendo, maldito hippie sujo, quero que vá embora, saia já daqui!
- Hey, man! Cuidado, quase acertou em mim. - disse Johnny Bigú calmamente graças ao cigarrinho de artista que tinha incendiado pouco antes.
- Era isso que eu queria. - Dieguito agora estava realmente fazendo Bigú paranóico. Não que a erva que tinha rentemente fumado fosse dessas que dão paranóia dos infernos, é que qualquer um fica paranóico com um sujeito desconhecido e com o rosto encoberto por um capuz negro apontando uma espingarda para o meio das suas fuças a menos de 3 metros. Guacamole de repente parou de mirar e disse: - isso aí é uísque?
- Sim, vai um gole aí?
- Opa, certo! Ei, ei, ei, você tem um baralho, cara. Tá a fim de um pôquer?
- Mas é claro, tava cansado de jogar paciência mesmo.
- Me chamo El Coyote... - Dieguito repensou, tirou o capuz com raiva, revelando seu rosto - Ah,foda-se esse troço, eu sou Dieguito Guacamole.
- Johnny Bigú. -

Depois de muitas rodadas depois, Johnny gritou - Dois pares!
- Ahá! Full House, ganhei.
- Não, Coyote, tu não tá entendendo, olha lá! - apontando para algo nas costas de Dieguito - São dois pares de capangas armados até os dentes!
- Puta que pariu, pernas pra que te quero!

Ambos se levantaram num pulo, recolhendo o que estava a mão e deram no pé. Logo cruzaram a praça principal da cidade e avistaram dois cavalos amarrados na frente do saloon. Johnny, menos em forma mas muito mais veloz pelo medo, gritou:

- Hey, Dieguito, rápido, vamos pegar os cavalos pra fugir.

Quando foi desatar o nó que prendia o cavalo ao poste à frente do saloon, outros dois sujeitos estavam fazendo a mesma coisa, com os mesmos cavalos. Eram Herbertz Gonzales e Carlito Marón.

- Esse cavalo é nosso, hombre!
- Vamos tirar no par ou ímpar!

Nisso, um tiro foi ouvido, os brutamontes do saloon saíram pela porta de vai-e-vem, enquanto do outro lado os capangas da fazenda do velho doido Willy já estavam perigosamente perto. Não se sabe ao certo o que aconteceu, mas o que rolou foi a maior suruba punk rock style ever. Por enganos do destino, da sorte ou simplesmente por conta de Éris, os capangas do rancho acharam que os brutamontes do saloon eram amigos de Johnny e El Coyote, enquanto a rapaziada do saloon achou que os capangas do velho doido Willy eram os seguranças de Herbertz e Carlito Marón, de modo que se pegaram às dentadas, facadas, foiceadas, arranhadas, chutões, tirambaços, cusparadas, pauladas, voadouradas, cabeçadas, chifradas, quebra-costeladas, garrotadas, garrafadas, dedadas na olhada, epilepsiadas, asadas, touradas, soco-inglesadas e todo sorte de violência física, psicológica ou espiritual.

Como toda briga chinelation, não demorou muito para as pessoas já não saberem mais em quem batiam, de modo que a única saída era saírem de fininho sem que ninguém notasse nada. Isso aconteceu e tudo ficou na paz. A coisa estranha é que Johnny, Herbertz, Carlito e Guacamole, todos eles continuavam com as mãos nas cordas que prendiam os dois cavalos - na confusão, simplesmente ninguém havia tocado neles.

A lenda de Los Mexican Mariachi Maravilha

Na terra seca em meio ao deserto adornado por um cactos aqui e um urubu ali, quatro jovens figuras podiam ser divisadas no horizonte andando em direção ao sol poente. A pressa já havia se esvaído deles, distantes da cidade e alheios ao mundo, apenas caminhavam em seu ritmo para aventuras inenarráveis em destinos muito improváveis.

Esta é a história de como tudo isso começou.