janeiro 08, 2007

On the Road budista

Essa foi a melhor definição que poderiam encontrar para o livro Os Vagabundos Iluminados, também do Kerouac. Ainda que o alter ego seja outro, com certeza é mais uma experiência louca e fascinante de um viajante maluco que vai pra lá e pra cá de carona, trem, ônibus ou no CALCANHAR, só que desta vez em busca da iluminação e encontrando-se com seus amiguinhos “bikkhus” (um bando de budistas doidos que partilhavam de uma mesma vagabundagem, nadando contra a corrente materialista da sociedade americana - sem deixar de lado o vinho e as festas, obviamente).

Os “vagabundos do dharma” não iam apenas de Monterrey a Frisco ou LA (ainda que esses clássicos destinos do On the Road estejam bem presentes n’O Vagabundos...), eles escalavam montanhas pelo prazer de escalar, se metiam em lugares inóspitos para meditar e ficavam muito contentes com sua grande mochila nas costas, com saco de dormir, kit de panelas e alguns compartimentos com alguma comida leve (em kg). Claro que há altos e baixos, às vezes tudo parece uma droga e se quer sair da estrada e comer um rango quente, mas tudo isso passa em uma tranqüila meditação à beira de um lago congelado. A semelhança não pára apenas na viagem desenfreada, Sal Paradise e Dean Moriaty da vez são Ray Smith e Japhy Ryder, sendo a mesma forma usada no mais conhecido livro do Kerouac: Ray é o narrador e alter ego de Kerouac, Japhy é uma espécie de ídolo para Ray (assim como era Dean) e os dois juntos vivem loucas aventuras - ainda que a grande diferença é que na estrada em si, Ray viaja sozinho e se encontra com Japhy esporadicamente, quando conversam sobre seus devaneios budistas e se retiram pras montanhas pra uma boa aventura.

Pessoalmente achei melhor que o próprio On the Road, talvez porque faça bem mais sentido andar por aí com ideais budistas do que simplesmente andar por aí. Recomendo muito, devorei e até me deu idéias de procurar conhecer mais o budismo. Parece uma coisa muito sensata, nem muito ao leste ou oeste - um caminho moderado.

“O bardo zen-lunático dos antigos caminhos do deserto vê a coisa toda como um mundo cheio de andarilhos de mochilas nas costas, os Vagabundos Iluminados que se recusam a concordar com a afirmação generalizada de que consomem a produção e portanto precisam trabalhar pelo privilégio de consumir, por todas aquelas porcarias que não queriam, como refrigeradores, aparelhos de TV, carros, certos óleos de cabelo, e bobagens em geral que a gente acaba vendo no lixo depois de uma semana (...)”.