janeiro 02, 2007

Esperando 1gb copiar para o pen drive

Entrei contrariado. Eu sou uma das únicas pessoas no mundo que sabe quando uma noite acabou. Todos meus parceiraites de birinaite, do Alabama ao Chuí, jamais sabem quando parar. O bar ficava numa dessas esquinas decadentes onde bêbados se reúnem no fim da noite (ou algo que o valha) para comer, continuar bebendo e fazer balbúrdia uns com os outros. E como todo bar desse tipo, encontramos todo o tipo de figura, desconhecida e principalmente conhecidas. Desta vez não foi diferente. Enquanto procurávamos uma mesa no superlotado lugar, um dos meus confrades de bar avista um primo de um amigo de outro conhecido - o mais importante é que possuía lugares vagos na mesa.

Cumprimentamos as 3 pessoas que já estavam ancoradas na cadeira e nós 3 nos sentamos nos espaços vagos da geral, com uma boa vista para o bar. E aí um dos sujeitos que era amigo do amigo do meu amigo, um desses tipos que saíram diretamente do brechó com suas roupas listradas, allstar e óculos quadradão, virou-se pra mim e disse:

- Tu conhece Bosch?

Tentei ignorar, estava meio de mau humor porque queria ir embora, sipiei minha cerveja, mas ele me olhava por sobre o copo diretamente nos olhos e repetiu:

- Tu conhece Bosch?

Não pude mais ignorá-lo. Não queria entrar em nenhuma discussão sobre arte com bêbados, nem filosofia, nem porra nenhuma, só queria ficar quieto. Então respondi: - Não. - e continuei bebendo minha cerveja, na doce esperança de que ele me esqueceria para sempre por eu ser um idiota inculto que não valia a pena doutrinar. Doce ilusão. Ele sorriu, levantou o indicador e começou a falar sobre todas as obras maravilhosas que o velho Hiernoymus Bosch tinha produzido, desde as rusgas com as bichas loucas até qualquer coisa que ele falava sobre simbolismo e eu não pude ouvir porque simplesmente não queria escutar.

Cara, como eu odeio pessoas “cultas” que necessitam desesperadamente mostrar-se cultas por algum motivo obscuro - ainda que se você perguntar pra elas como se frita um ovo elas vão responder que suas mães são experts nisso, mas que são contra esse negócio proletário de ovo frito. Maior conversa de todos os tempos. Che Guevarismo em excesso.

Mau humorado que estava, decidi que era hora de encher o saco e puxei um papo bizarro com o sujeito do Bosch sobre o caminho óctuplo e Gustav Frodin. Ele não fazia idéia de que porra era essa de caminho óctuplo, muito menos tinha ouvido falar em Frodin (nem deveria, é um poeta obscuríssimo que sequer foi traduzido pra português) e eu simplesmente bebi minha cerveja, triste por ser um sujeito tão mesquinho e agressivo que vivia com pessoas tão chatas - talvez por isso tenha me tornado tão triste e desinteressante nestes 45 anos de vida.

Algumas vezes se tem sorte nos bares, mas ultimamente nessa maldita cidade tenho tido um tremendo dum azar. Bons temos quando se encontravam vagabundos filósofos por toda a parte e se podia atirar a esmo por um papo interessante em qualquer balcão de bar.

Antes de me levantar pra ir embora, o sujeito olhou pra mim e perguntou de novo:

- Mas vem cá, tu não conhece Miró?

Ah, se ao menos ela tivesse me ouvido, não precisaria ficar agüentando esse tipo de coisa. Respondi que sabia mirar muito bem, que até tinha feito parte do time de tiro do colégio, e saí o mais rápido possível da tristeza daquele lugar e suas pessoas.