março 23, 2006

Essas estranhas e verdadeiras histórias reais das pessoas de mentira que vivem dentro da minha cabeça

É certo que tu, como burro que é, não sabe que existiu um país em que as pessoas eram feitas d´água. O mais interessante é que quando choravam os aguários (o nome do povo que é feito d´água) caiam pedaços de carne dos seus olhos. Bastava ter uma briga entre namorados e lá se esvaiam pedaços de maminha, picanha, chuleta e, às vezes, até mesmo filé. Costela não. Não há notícia de um aguário que tenha chorado costelas. Mas, poderia haver, a ciência nunca sabe tanto quanto a mística imortal. Então, a resposta mais segura é: por enquanto não vi nenhuma costela, mas poderiam haver (e estamos conversados). Por esta incrível característica, o PIB dos aguários era altissimamente composto pela exportação de cortes de carne bovina provinda de seus próprios olhos. Mas, em contrapartida, eles tinham que importar muita água de outros lugares, porque se há uma coisa que os aguários precisam é de água - e apesar de serem totalmente feitos d´água, a sua sociedade tinha como um dos maiores tabus o canibalismo (ou, aguanibalismo, como gostavam de se referir).

Até há relatos de aguários que se meteram a saborear o líquido visceral de outro do seu povo, mas isso faz um bocado de tempo, mais precisamente na época teutônica da água tônica, quando se acreditava que tsunamis eram benção divina e não simplesmente o reflexo de um grande peido nas tripas da Terra e suas placas tectônicas.

Acontecesse que o modo com que os aguários produziam carne era bastante doloroso e desumano. Como só as lágrimas geravam os valiosos e economicamente viáveis pedaços de maminha, picanha e até filé (não costela), as fábricas de carne empregavam milhares de águarios e passava o dia inteiro a espancar-lhes o bucho e colher o que lhes brotava dos olhos, indo direto pras embalagens de congelados e exportados para um desses países mucho locos na fantástica Arábia Ocidental do Norte, popularmente conhecida como Capitalândia Gringostates of North Ocident.

Aí os aguários continuavam lá, numa boa (a exceção daqueles que apanhavam pra que produzissem a carne), ganhando sua grana até que chegou o sindicalismo e começou a foder com o esquema.

Fábricas de carne fecharam, aguários entraram em greve, houve tumultos, panelaços (com galões de 20 litros d´água no lugar de panelas) e uma infinidade de picuinhas e escaramuças entre patrões e empregados que acabou sendo decidida numa briga de lango-langos - a qual acabou empatada tecnicamente, mas cada um dos lados disse que venceu.

No fundo, no fundo, foi isso: porra nenhuma ficou decidida e o caos reinava, enquanto o rei dos aguários tentava reinar, as cadelas no cio reinavam pra caralho e PIB caia, remando contra a maré.

Então o revolucionário dr. Frukenfrock, experiente cientifelólogo do ramo de hortalóides moleculículos, revolucionou (como o próprio adjetivo dado ao dr. sugere) ao anunciar que as pessoas não precisavam mais ser maltratadas pra que a produção de carne continuasse. O dr. havia desenvolvido uma plantação de pedaços de carne - coisa muito complexa, é verdade, mas pr dr. era muito simples: bastava misturar água potável, caramelo e uns chifres de boi no cemitário e em 5 meses (se plantados na primavera, no outono demorava uns 8 meses) estavam lá os pedaços de carne bovina prontos para a colheita.

Sensacional!

Os aguários então comemoraram tomando muita água e comendo coelhos, ursos, camelos, elefantes, orangotangos, ornitorrincos, gatos, cachorros, esquilos, hipopótamos, zebras, galinhas, pingüins, ovelhas, cabras e, dizem, até um velocirraptor entrou na baila e tudo voltava a normalidade, porém, com muito menos lágrimas.

Até que, 50 anos depois, o dr. Frukenfrock foi crucificado e devorado vivo, porque suas plantações de carne demandavam tanta água que faltou para os aguários sobreviverem.

Então, foram extintos assim de repente.

Pena, até hoje me lembro da maminha aguária, tão suculenta (graças a quantidade de água dentro dela).