E aí eu peguei minhas coisas, que consistiam de três cuecas estilo boxer, uma camiseta escrito “Daileon”, uma lata de Guiness, um punhado de sonhos e sabe-se lá quantas lágrimas, coloquei tudo isso dentro da mochila e fiquei ali, parado na soleira da porta. Os parcos carros que passavam pela rua não me notavam, mas eu os notava. Eles não imaginavam, mas eu estava muito mais distante que eles, ainda que ali, parado, no mesmo lugar. Então eu dei o primeiro passo em direção a rua e selou-se o meu destino: eu não estava mais no mesmo lugar. A viagem havia começado. E até o caminho chegar ao seu fim, não havia outra coisa a fazer a não ser continuar indo na direção que a bússola dentro do meu peito apontava precisamente: wherever hill.
Anos depois, analisando, vejo que ninguém jamais entendeu porque eu fiz isso. Uns acham que eu era um porra-louca que não queria trabalhar, outros pensam que era simplesmente uma vontade incontrolável que surgiu em mim e, esmagada e sufocada, cresceu até se tornar uma atitude drástica e brusca, tem quem diga que eu fiquei louco, outros ainda falam de alguma droga esquisita (as quais, confesso, provei) e há ainda aqueles que pensam que não foi nada disso - e estes últimos estão plenamente certos.
Não foi nada disso.
Na verdade eu saí de casa e fui pra São Paulo por causa de uma mulher.
O pior é que eu nunca tinha visto ela. Nem ouvido. Nem cheirado. Nem sentido. Pra falar bem a verdade, eu nem sabia o nome desta maldita. O caso é o seguinte:
eu tenho um problema com as mulheres.
Calma, amizade, não sou brocha, não sou viado, tampouco sou chegado num travecão. O problema é que além de um corpo sexy, um rosto lindo, estilo e inteligência, eu sou MUITO ligado em olhos.
- Olhos?
Sim, olhos. Aquelas duas coisinhas que ficam no centro vertical superior, ainda que fiquem na horizontal. Não me entenda mal, gosto de peito, bunda, coxa, mas, vou te dizer, decididamente eu tenho uma coisa com olhos.
E eu gosto de olhos com um que de diferentes (VESGOS NÃO, eu disse DIFERENTES).
Se eu tivesse nascido na Bahia ou na África, eu acharia o Rio Grande do Sul o paraíso, mas como nasci em Porto Alegre, capital da República Federativa dos Pampas, só posso dizer: mas que merda. Todo o Brasil baba pelas gaúchas, mas vou te dizer, falta a parte dos olhos.
Eu adoro peito grande. Poderia ficar horas só mamando num bom peitão de 18 anos. Mas a coisa mais louca que eu já fiz na minha vida, a paixão mais avassaladora que o meu micro-universo conheceu, não foi por uma peituda, muito pelo contrário, ela tinha duas amistosas média-pequenas glândulas mamárias, porém, a pequena em questão tinha os olhos em formato de amêndoa.
Ah, por certo tu não sabe do que eu estou falando. Só eu sei quando um olho tem formato de amêndoa. Eu tenho uma teoria: em um dia deus criou o mundo, em dois criou a mulher e o resto ele utilizou projetando os olhos mais puxadinhos.
E tu sabe o quão difícil é achar uma oriental em Porto Alegre? Tu não faz idéia do meu drama, portanto, não me condene por ter botado o pé na estrada por uma mulher que eu ainda não tinha achado, mas, com certeza, acharia na Liberdade, em São Paulo.
O pior de tudo, lembro só agora, eu tinha esse negócio com olhos desde minha infância. Lembro que na 3a série eu tinha uma namoradinha linda, de olhos puxadinhos. Puxa, a quanto tempo eu não vejo a Ana. Será que ela ainda mora na mesma cidade? Estranho eu nunca ter cruzado com ela depois de crescido. Poderíamos formar um belo par.
Ah, pior que não poderíamos não. Porque as parcas e remotas possibilidades de achar uma menina de olhos puxadinhos em Porto Alegre torna-se completamente impossível porque TODAS, eu disse TODAS, estas japinhas que eu conheço estão NAMORANDO. É incrível, eu NUNCA conheci uma linda de olhos puxados que não estivesse namorando.
Nunca.
E olha que eu procuro.
Até no orkut.
Por isso que eu fui pra São Paulo. Foi por isso que eu dei o primeiro passo rumo ao mundo. Só por isso.
Hm, meu tempo nesse cyber café acabou. Um dia desses eu volto com um convite de casamento - e o sobrenome dela vai ser Hyamazaki ou qualquer coisa assim.
